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Josias de Souza

Contrariedade de Dilma fez Temer se desdizer

Josias de Souza

04/07/2013 20h58

 

Dilma Rousseff ficou aborrecida com a entrevista concedida por Michel Temer. Não gostou de saber que o vice-presidente admitira a falta de tempo para realizar um plebiscito em tempo de produzir alterações nas regras eleitorais de 2014. Foi para aplacar a contrariedade da presidente que Temer se reposicionou em cena.

Ninguém entendeu direito. No final da manhã, após reunir-se com líderes governistas e ministros, Temer recuou da tese do plebiscito a jato. Fez isso sob holofotes: "Não há mais condições de fazer qualquer consulta antes de outubro. Não havendo condições temporais para fazer essa consulta, qualquer reforma que venha se aplicará para as próximas eleições e não para esta" (repare no vídeo lá do alto).

À tarde, Temer recuou do recuo. Dessa vez, absteve-se de comparecer à boca do palco. Falou por meio de nota. "Embora reconheça as dificuldades impostas pelo calendário, reafirmo que o governo mantém a posição de que o ideal é a realização do plebiscito em data que altere o sistema político-eleitoral já nas eleições de 2014."

Entre o Temer matutino e o Temer vespertino, houve a irritação de Dilma. Uma irritação que forçou também o ministro José Edaurdo Cardozo (Justiça) a se recompor. Ele estava ao lado de Temer na entrevista concedida defronte do Palácio do Jaburu. Concordou com ele: "Há uma avaliação de que é muito difícil". Falou sobre o suposto consenso dos líderes governistas quanto à tese do plebiscito (assista abaixo). Ficou subentendido que concordava com Temer em relação aos prazos.

 

Dilma determinou que Cardozo se explicasse. O ministro mandou chamar os jornalistas para declarar: "O governo não mudou de posição em nenhum momento." Heimmm?!? Cardozo jogou a batata quente no colo dos congressistas. "O governo não pode bater o martelo sobre o plebiscito porque o martelo é do Congresso".

Mais cedo, entre as declarações matutinas e vespertinas do vice e do ministro, Dilma discursara em defesa do plebiscito num evento na Bahia (veja abaixo). Quer dizer: está entendido que não haverá plebiscito a toque de caixa. Também está claro que as regras de 2014 não mudarão. Primeiro porque o calendário é curto. Segundo porque a maioria dos partidos não quer. Dilma já entendeu que a ideia morreu. Apenas não quer segurar a alça do caixão. Enquanto isso, ninguém fala sobre saúde, educação e transportes, as demandas das ruas.

 

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.