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Josias de Souza

Campos diz ao seu ministro que ele terá que sair

Josias de Souza

17/09/2013 19h56

Com a lealdade já extremamente cansada, o PSB deflagrou a operação de desembarque do governo Dilma Rousseff. Presidente da legenda, o governador pernambucano Eduardo Campos convocou para esta quarta-feira uma reunião extraordinária da Executiva. Fez isso depois de combinar com a maioria dos membros do colegiado a aprovação de uma resolução que devolve para Dilma Rousseff os cargos que o partido ocupa no governo federal.

Eduardo já telefonou para o ministro Fernando Bezerra (Integração Nacional). Informou ao seu apadrinhado que ele terá que deixar a Esplanada. Ligou também para o governador do Ceará, Cid Gomes, que mantém na pasta dos Portos o afilhado político Leônidas Cristino. Informou a Cid sobre o encontro da Executiva e pediu que compareça. Ainda nesta terça-feira, Eduardo Campos deve tocar o telefone para Lula. Vai comunicar as novidades ao amigo.

Um pedaço do PT vinha pressionando Dilma a demitir a turma do PSB. Em reunião realizada na Granja do Torto na sexta-feira passada, Lula aconselhou a presidente a deixar tudo como está para ver como é que fica. Convertido em notinhas de jornal, o burburinho abespinhou Eduardo Campos e os defensores de sua candidatura presidencial. Reunida nesta terça, em Brasília, a cúpula do PSB decidiu agir.

Nos seus diálogos telefônicos, Eduardo Campos diz que preferia desocupar os cargos no governo mais adiante. Para justificar a antecipação do movimento, escora-se nos setores mais impacientes da legenda. Alega que diretórios estaduais importantes do PSB já se posicionaram a favor do desembarque. Entre eles os de São Paulo e Rio Grande do Sul.

De todos os caciques presentes à reunião desta terça, só o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, defendeu o adiamento da retirada. Mas mesmo ele, ao perceber que ficara vencido, associou-se à maioria. Defensores do apoio do PSB à candidatura reeleitoral de Dilma, os irmãos cearenses Cid e Ciro Gomes podem se opor à entrega dos cargos. Nessa hipótese, tendem a ficar isolados.

Em privado, os opoiadores de Eduardo Campos recordam que Cid e Ciro já criticaram publicamente o comportamento paradoxal do PSB. Diziam que o partido empinava sua opção presidencial sem devolver os cargos federais que ocupa. A situação agora se inverte. A maioria pró-Eduardo Campos dirá que, se quiserem permanecer no governo, os Gomes talvez tenham de trocar de partido.

O PSB organiza o balé dos cargos de modo a não confundi-lo com o lançamento da candidatura de Eduardo Campos. Isso vai ficar para mais adiante. Avalia-se que a formalização é desnecessária. As dúvidas quanto à disposição do governador de Pernambuco se dissiparão. E ele, mesmo sem romper formalmente com Dilma, poderá promover jantares como o que ofereceu ao tucano Aécio Neves no mês passado sem se importar com as reações do PT e do Planalto.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.