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Josias de Souza

Black blocs entram no radar eleitoral de Dilma

Josias de Souza

01/11/2013 05h47

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Há um quê de pragmatismo político no envolvimento de Brasília no combate aos black blocs. Movidos a pesquisas e intuição, Dilma Rousseff e os operadores de sua pré-campanha enxergaram uma oportunidade eleitoral na crescente aversão dos brasileiros à violência de rosto coberto que tomou conta das manifestações de rua, sobretudo em São Paulo e no Rio de Janeiro.

O manutenção da segurança pública é uma responsabilidade dos Estados. O poder federal só costuma se meter quando governadores pedem socorro ou mediante ordem judicial. No atual surto de arruaças, Dilma mandou que o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) oferecesse ajuda às secretarias de Segurança de Geraldo Alckmin (PSDB) e de Sérgio Cabral (PMDB).

Fez isso num instante em que as sondagens que lhe chegam apontam algo que o Datafolha detectou na última sexta-feira: 95% dos paulistanos já não aguentam mais os arruaceiros que tocam fogo em ônibus, depredam estações de metrô, atacam agências bancárias, destroem caixas eletrônicos, estilhaçam vitrines de lojas e investem contra prédios públicos.

Foi contra esse pano de fundo que o ministro Cardozo se reuniu nesta quinta-feira (31), em Brasília, com os secretários de Segurança de São Paulo e do Rio, Fernando Grella e José Mariano Beltrame. Acertaram a criação de um grupo de inteligência tripartite, a "unificação" de protocolos de ação policial, e a abertura de conversações para endurecer as leis.

A mudança de atitude de Dilma foi prenunciada no final de semana. Pelo Twitter, ferramenta eletrônica que a conveniência eleitoral a fez ressuscitar, ela reagira com tenacidade à agressão cometida por manifestantes sem-rosto contra um coronel da PM de São Paulo.

"Agredir e depredar não fazem parte da liberdade de manifestação. Pelo contrário", escrevera Dilma em seu microblog. "Presto minha solidariedade ao coronel da PM Reynaldo Simões Rossi, agredido covardemente por um grupo de black blocs em SP."

Desde que as ruas de junho engoliram parte do prestígio de Dilma, o radar eleitoral do seu pré-comitê tornou-se mais refinado. Pesquisas feitas por encomenda do PSDB coincidem com as do PT em dois pontos. O programa 'Mais Médicos' e a reação à espionagem dos EUA ajudaram na restanração parcial da imagem de Dilma. Paradoxalmente, imagina-se que os anarquistas do black blocs podem dar mais um empurrãozinho.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.