Aniversário do Real virou festa partidária. Pena!
Sempre que alguém diz que o Brasil está dando certo é preciso combinar o que é 'dar certo'. Para chegar a algum tipo de acordo, a primeira condição é falar a mesma língua. O problema é que, escolhidos os índices e definidos os critérios, o país costuma se dar conta de que sua maior crise é de semântica. "Certo" se mede no número de automóveis em circulação ou na quantidade de horas perdidas no trânsito? Os protestos de rua são provas de que a democracia brasileira deu certo ou são evidências de um país que dá cada vez mais errado?
Num cenário assim, tão volúvel e controverso, a mania do ser humano de dividir a história em eras é muito útil. Ajuda a organizar a caminhada. Caminha-se para a frente sem perder a compreensão do que ficou para trás. Há duas décadas, quando foi lançado o Plano Real, ninguém gritou 'Oba, começou a estabilidade da moeda'. Hoje, o Real é uma dessas raras iniciativas que a posteridade, seletiva senhora, cuida de classificar como algo que deu certo. E ninguém ousa questionar. Sob pena de passar por idiota.
Nesta terça-feira (25), o aniversário de 20 anos do Plano Real foi festejado no Congresso Nacional. Bom, muito bom, ótimo. Um detalhe, porém, estragou a festa. Urdida pelo senador Aécio Neves com propósitos eleitorais, a coisa virou uma celebração partidária. O Real merecia mais. Ao discursar, Aécio pareceu mais preocupado em espinafrar o PT do que em cultuar a moeda. A ocasião exigia mais grandeza.
Quatro sucessões presidenciais depois de ter deixado o Planalto, FHC foi resgatado do "exílio" político que o próprio PSDB lhe havia imposto. Guindado merecidamente à condição de protagonista da festa, o ex-presidente, merecedor de todas as reverências, também cometeu o equívoco de injetar 2014 no pronunciamento feito em plenário: "Está na hora, o Brasil está precisando de ar novo, sangue novo." Mesmo quem enxerga benefícios na alternância do poder -em Brasília ou em São Paulo- talvez preferisse ouvir de FHC outro discurso. O momento reclamava uma grandeza apartidária.
Ausente do plenário, o PT respondeu à festa com artilharia retórica. Por que os sábios da política brasileira não conseguem celebrar sem maniqueísmos as poucas coisas que deram certo no país? Daqui a 20 anos saberemos. Ou talvez não.
Em tempo: Vai abaixo um vídeo veiculado aqui em abril de 2013. Ajuda a entender por que o Real merecia uma festa mais, digamos, plural.
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