Senado convida deputada venezuelana ameaçada de cassação para vir ao Brasil
Guiando-se pela máxima segundo a qual não existe vazio em política, o Senado brasileiro tenta ocupar um espaço que o governo Dilma Rousseff renegou. Por meio da Comissão de Relações Exteriores, organiza audiências públicas para debater a deterioração institucional da Venezuela.
Nesta segunda-feira, o presidente da comissão, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), e um de seus membros, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), se reunirão com a deputada venezuelana Marina Corina Machado, uma das lideranças da oposição ao presidente Nicolás Maduro.
O encontro ocorrerá na Universidade de Lima, no Peru. Ali, Corina participa de um seminário para o qual os senadores brasileiros também foram convidados. Começa nesta segunda-feira e vai durar dois dias. O evento foi organizado por uma entidade presidida pelo escritor peruano Mario Vargas Llosa, a Fundação Internacional para a Liberdade.
No seminário, serão debatidas as "oportunidades" e os "desafios" da América Latina. Corina foi escalada para participar de um dos paineis, batizado de "o desafio do neopopulismo". Ela debaterá com Mauricio Macri, prefeito de Buenos Aires; Oscar Ortiz, ex-presidente do Congresso da Bolívia; e Jorge Larrañaga, candidato à presidência do Uruguai.
O convite para que Corina fale no Senado brasileiro será formalizado três dias depois de ela ter sido alvo de uma manobra da Venezuela na Organização dos Estados Americanos, em Washington. Com o inusitado apoio da representação do Brasil na OEA, a deputada venezuelana foi impedida de discursar em sessão aberta sobre as violações praticadas pelo governo do seu país.
Corina só conseguiu falar graças à generosidade do Panamá, que cedeu o seu tempo à deputada. Ainda assim, o discurso ocorreu em sessão fechada, sem público e longe de jornalistas. "É a mesma censura que o regime da Venezuela nos impôs", queixou-se Corina. "Seu braço censor chegou até a OEA. Eles demonstraram que têm medo da divulgação da magnitude da repressão na Venezuela."
Além de Corina, cujo mandato a maioria chavista do Congresso da Venezuela ameaça cassar, os senadores brasileiros pretendem convidar para a audiência pública no Brasil o escritor Vargas Lhosa e outros participantes do seminário. "Não há como a gente dar uma de avestruz e fingir que o problema não é com o Brasil. Isso é um erro brutal", disse o senador Ferraço.
"É óbvio que o Brasil não tem varinha de condão para resolver todos os problemas", ele acrescentou. "Mas o país não pode se demitir de exercer sua liderança natural na região. Não se trata de tomar um lado ou partidarizar uma questão que deve ser tratada institucionalmente. Se tomamos um lado, perdemos a capacidade de interlocução."
Para Ferraço, não há como ignorar o que sucede na Venezuela. "Os inegáveis avanços sociais ocorridos no país estão ameaçados por uma conjuntura que mistura a prisão de opositores, a morte de manifestantes e uma ação sobre os meios de comunicação que limita a liberdade de imprensa."
No dizer do presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, a recuperação da estabilidade do vizinho não interessa apenas por razões políticas. "A Venezuela está no Mercosul. É nosso terceiro parceiro comercial, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Nossa balança comercial com a Venezuela é superavitária em mais de US$ 5 bilhões. Na nossa relação comecial com os EUA, temos um déficit de cerca de US$ 5 bilhões."
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