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Josias de Souza

Dilma menciona Copa até ao inaugurar hospital

Josias de Souza

30/06/2014 18h16

Uma coisa muito repetida acaba perdendo a solenidade. Torna-se até meio humorística. É o caso da obsessão com que Dilma Rousseff fala de Copa. Nesta segunda-feira (30), ela enfiou o Mundial de futebol num discurso de inauguração de hospital, na cidade de Saquarema, no Rio. "No que se refere à Copa, demos uma goleada nos pessimistas, naqueles que anunciavam o caos", disse, em cerimônia transmitida ao vivo pela TV estatal NBR.

Dilma empilhou as previsões que os "pessimistas" fizeram: os aeroportos não ficariam prontos, não haveria hotéis, haveria contágio de doenças infecciosas, faltaria luz… "Nada disso aconteceu, e nós estamos, de fato, fazendo a Copa das Copas", disse, antes de afagar o eleitorado: "Nesse processo, tem um grande vencedor, o povo brasileiro."

Para ilustrar seu ponto de vista, Dilma mencionou um vídeo que diz ter assistido na internet (veja abaixo). A peça exibe um encontro de duas bandas: a da Brigada Militar de Porto Alegre e a Fator 12, composta de torcedores holandeses. Deu-se há 12 dias, antes da partida em que a Holanda prevaleceu sobre a Austrália por 3 a 2.

"Diziam que ia ser uma coisa horrosoa, que ia ter manigestação, que a polícia ia brigar com torcedor. Aí, vi a seguinte cena na internet: estava a PM de um Estado tocando dentro de um quadradinho separado […]. A banda da polícia começa a tocar Aquarela do Brasil. Nisso aponta um grupo de holandeses, vestindo laranja. Não tocavam muito direito a Aquarela do Brasil, mas começaram a escutar e a tocar."

Dilma prosseguiu: abre-se o cercadinho "e adentra a banda dos holandeses tocando Aquarela do Brasil. Nessa altura, já tinham aprendido. E passam a tocar junto com a polícia. É esse o espírito desse país." A presidente disse ter ficado "estarrecida" com o que viu. Considerando-se que a banda da PM não borrifou spray de pimenta nos músicos holandeses, Dilma decerto quis dizer que ficou extasiada.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.