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Josias de Souza

Mito de superioridade do PT amplifica as vaias

Josias de Souza

10/03/2015 14h34

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Dilma Rousseff foi hostilizada novamente nesta terça-feira. Vaiaram-na em São Paulo, ao chegar no Salão Internacional da Construção. Além das vaias, ela ouviu gritos de 'fora Dilma' e 'fora PT'. Pelo manual do petismo, quem participa de atos assim é a elite golpista. Na definição do Planalto, são pessoas que não se conformam com o resultado das urnas e sonham com um terceiro turno, entendido como um neologismo para impeachment.

Nos dois casos, as certezas baseiam-se no mito de excepcionalidade cultivado pelo petismo. O pronunciamento feito por Dilma no domingo, em rede nacional de rádio e tevê, revelou uma inédita pretensão da presidente de ser uma potência gerencial e ética, que só deve contas à sua própria noção de superioridade.

Inédito também o grau de alienação da presidente, denunciado no pedido de "paciência" que endereçou à audiência, na suposição de que seu destino evangelizador bastaria para obter a submissão aos seus próprios mitos autocongratulatórios. De duas, uma: ou Dilma e o petismo são ingênuos ou são cínicos.

Não é o cinismo que assusta. Contra o cinismo sempre é possível proteger as crianças, retirando-as da sala. O que assusta mesmo é quando nem Dilma nem o PT estão sendo cínicos. O que espanta é quando eles acreditam mesmo que sua missão especial no planeta lhes dá o direito de vender uma fábula na campanha e entregar um purgatório no exercício do Poder sem uma autocrítica de permeio.

Nesse ritmo, o mito de superioridade vai acabar convertendo o Brasil num país 100% feito de golpistas. Repare na foto abaixo a face do Brasil que trama o golpe do terceiro turno.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.