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Josias de Souza

Com pacote de obras, Dilma tenta virar a página

Josias de Souza

27/04/2015 17h14

Enroscada num enredo monopolizado por notícias negativas, Dilma Rousseff tenta colocar em pé mais um programa de concessões de obras de infraestrutura —estradas, ferrovias, portos, aeroportos… São empreendimentos necessários. Segundo o líder do governo, José Guimarães, foram orçados em R$ 150 bilhões. Quebrado, o Estado não tem caixa para bancá-los. E tentará atrair dinheiro privado para a empreitada.

Dilma discutiu o assunto no final de semana com um grupo de ministros e dirigentes de bancos estatais. O blog ouviu um dos participantes da conversa. Segundo suas palavras, o que a presidente pretende é "virar a página". Dilma quer mudar de assunto. Deseja esboçar um quadro que comece a sinalizar para o cenário pós-crise econômica e moral. Plantados agora, os projetos começariam a dar frutos no final de 2016.

O que atrapalha as boas intenções de Dilma são os fatos. Noutros tempos, as empreiteiras pilhadas na Operação Lava Jato seriam as primeiras a se interessar pelo novo pacote de privatização de empreendimentos públicos de Dilma. Hoje, elas não têm nem caixa nem saúde jurídica para tomar parte do processo. Que contrapartidas o governo oferecerá para atrair novos investidores? Dilma conseguirá lidar com o capital estrangeiro sem fazer cara de nojo?

O que o governo tenta fazer agora em reação à conjuntura adversa é o que deixou de fazer no primeiro mandato de Dilma por convicção, compromisso e precaução. A presidente talvez tenha se dado conta de que não dá para atrair dinheiro privado apertando o nariz dos donos. Mas a ficha pode ter demorado a cair. Dilma já não escreve o enredo do seu governo sozinha. A Procuradoria e o Judiciário também desejam virar a página. Só que para trás. E o retrovisor mostra personagens como João Vaccari Neto e Renato Duque, denunciados novamente nesta segunda-feira por lavagem do dinheiro sujo extraído da Petrobras.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.