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Josias de Souza

Dilma esteve com delator numa cerimônia oficial

Josias de Souza

01/07/2015 14h56

Dilma e Ricardo Pessoa (com o rosto circundado) ajudam a quebrar a tampa de um barril de saquê

"Nunca recebi esse senhor", disse Dilma Rousseff sobre o delator Ricardo Pessoa. "Eu nunca o recebi em toda a minha passagem pelo meu primeiro mandato", enfatizou a presidente, há três dias, em Nova York. Quem ouviu ficou com a impressão de que Dilma jamais avistara o dono da construtora UTC, que diz ter transferido para sua campanha, em 2014, R$ 7,5 milhões em verbas desviadas da Petrobras. Não é bem assim. Dilma e Pessoa estiveram juntos pelo menos uma vez. Deu-se em 13 de julho de 2012, na cidade baiana de Maragojipe.

A presidente e o delator brindaram com saquê o lançamento da pedra fundamental de um estaleiro chamado Enseada do Paraguaçu, empreendimento contratado a um consórcio de empresas que reuniu a japonesa Kawasaki e as brasileiras UTC, Odebrecht e OAS. Eles também batizaram uma plataforma da Petrobras, a P 59. As fotos estão no site do Planalto.

Ao lado do então governador da Bahia Jaques Wagner, e da então presidente da Petrobras Graça Foster, Dilma e Pessoa participaram de um ritual japonês chamado Kagami biraki. Consiste em quebrar a tampa de um barril de saquê e, em seguida, brindar com a bebida. Reza a tradição que isso traz bons agouros para um empreendimento. Participaram também, entre outros, os presidentes da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e da OAS, Léo Pinheiro.

Hoje, dois dos atores que contracenaram com Dilma, Pessoa e Pinheiro, arrastam tornozeleiras eletrônicas em suas prisões domiciliares. O outro, Marcelo Odebrecht, está hospedado na carceragem da Polícia Federal em Curitiba.

Dilma discursou na cerimônia de 2012. Ela ainda falava de um Brasil de sonhos. "Foi-se o tempo em que o bolo precisava crescer primeiro para poder distribuir depois", declarou a certa altura. Citou a crise internacional. Fez referência à situação precária de países europeus, que cortavam benefícios, desempregavam e aumentavam tributos.

"O Brasil está em outro caminho", celebrou essa Dilma de três anos atrás. "Nosso caminho não é esse, não é igual ao deles. Nosso caminho é manter nosso desenvolvimento e buscar cada vez mais garantir que os bônus, as vantagens e os lucros desse desenvolvimento sejam distribuídos ao povo brasileiro." Dilma enfeitou seu discurso salpicando nele adereços como os juros baixos e a redução de impostos. Pressionando aqui, você chega a um vídeo que exibe essa cena de um Brasil imaginário.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.