Debilidade de Dilma faz de Renan rei sem trono
Em julho, antes de sair em férias, Renan Calheiros exibiu na TV Senado um pronunciamento aterrador. Referindo-se ao governo Dilma Rousseff, ele disse: "Estamos na escuridão, assistindo a um filme de terror sem fim e precisamos de uma luz indicando que o horror terá fim." De repente, o presidente do Senado resolveu se apresentar como um farol capaz de iluminar a República.
Nesta segunda-feira, Renan apresentou à equipe econômica do governo um rol de 28 propostas. Alinhavada em cima do joelho, a lista foi batizada de 'Agenda Brasil'. Em jantar com ministros e senadores governistas, Dilma sinalizou a intenção de encampar a agenda de Renan. Com isso, o presidente do Senado reposicionou-se em cena. De investigado na Lava Jato, passou à condição de rei sem trono.
Fragilizada, Dilma vê a posse de Renan em seu reinado acidental como a coisa finalmente entrando nos eixos, mesmo que temporariamente. A essa altura, tornou-se mais vantajoso para Dilma ser informalmente presidida por Renan do que permitir que o senador divida com o deputado Eduardo Cunha o comando da oposição —um levantando e o outro cortando.
A perspectiva de acerto de Renan com o governo produziu resultados instantâneos. O senador tomou distância da estratégia urdida por Cunha para acelerar a análise de prestações de contas de governos anteriores e, com isso, abrir caminho para converter a escrituração da gestão Dilma de 2014 em pretexto para deflagrar um processo de impeachment.
"As pessoas perguntam sobre impedimento, sobre apreciação de contas dos governos anteriores. Isso não é prioridade, à medida que o congresso tornar isso prioritário, nós estaremos tocando fogo no Brasil", declarou Renan, agora um ex-piromaníaco.
Na era dos governos petistas, Renan tem sido o poder de fato do Brasil. Usufrui de todos os privilégios do poder. Faz e desfaz. Manda e, sobretudo, desmanda. Graças à sua desenvoltura, tornou-se personagem de mais um inquérito, dessa vez sob a suspeita de prospectar propinas na Petrobras. Na conjuntura atual, Renan ganhou uma força mágica que coage Dilma.
Pela Constituição, cabe à Câmara decidir sobre a abertura de processos de afastamento de presidentes da República. Mas quem julga o pedido de cassação é o Senado. Assim, com sua coligação em frangalhos na Câmara, Dilma não tem senão a alternativa de aturar o reinado de Renan. Pelo menos até a denúncia da Procuradoria na Lava Jato. Ou até que as ruas levem Renan a concluir que presidir Dilma seria um marco menor na sua grandiosa biografia.
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