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Josias de Souza

Historiografia merece que a PF interrogue Lula

Josias de Souza

11/09/2015 15h35

Ricardo Stuckert/Instituto Lula

O delegado Josélio Sousa, da Polícia Federal, pediu autorização ao STF para interrogar Lula. Alega que ele, "na condição de mandatário máximo do país" na época do assalto à Petrobras, "pode ter sido beneficiado pelo esquema […], obtendo vantagens para si, para seu partido, o PT, ou mesmo para seu governo, com a manutenção de uma base de apoio partidário sustentada à custa de negócios ilícitos na referida estatal." Alvíssaras!

Nos últimos anos, nenhuma revelação conseguiu abalar o prestígio do morubixaba do PT, mesmo que o enredo fique, às vezes, meio assim, digamos, ilógico. O mundo ao redor de Lula, apodrecido, desaba. Mas o ex-presidente continua enchendo o noticiário de conselhos e ensinamentos. O personagem faz comícios e reuniões, almoça e janta com a sucessora, move-se embalado pela certeza de que nada afetará o seu bom nome.

A conversão do PT em máquina coletora de fundos ocorreu durante os oito anos do império de Lula, com as bençãos do imperador. Quando Roberto Jefferson jogou o mensalão no ventilador, o soberano ensinou aos súditos que "o PT fez, do ponto de vista eleitoral, o que é feito no Brasil sistematicamente". Ao notar que o melado escorria além do desejável, Lula fugiu da cena do crime, refugiando-se atrás da tese do "eu não sabia". E ficou por isso mesmo.

O petrolão nasceu ainda sob Lula, num instante em que o STF fechava a conta do escândalo anterior. E explodiu no colo de Dilma. Herdeira do esquema, a presidente demorou um ano e meio para se desfazer dos diretores acomodados na Petrobras para azeitar a gatunagem. Súbito, a criatura juntou-se ao criador atrás do biombo do "eu não sabia".

"Atenta ao aspecto político dos acontecimentos", anotou o delegado no ofício endereçado ao STF, "a presente investigação não pode se furtar de trazer à luz da apuração dos fatos a pessoa do então presidente da República." De fato, qualquer investigador desatento consideraria a inquirição de Lula imprescindível. Considerando-se observações feitas por delatores e menções que aparecem em papeis e grampos, o imprescindível torna-se inevitável.

A historiografia merece um depoimento de Lula à Polícia Federal, sob a supervisão do Ministério Público Federal. Nem que seja para acomodar a falta de lógica do "eu não sabia" num documento oficial. Ou o STF entende isso ou um pedaço da história do maior escândalo da República vai virar lenda.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.