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Josias de Souza

Tucano do Conselho de Ética defende afastamento de Cunha da presidência

Josias de Souza

09/10/2015 15h12

Membro do Conselho de Ética da Câmara, o deputado tucano Betinho Gomes (PE) defende o afastamento imediato de Eduardo Cunha da presidência da Casa. Destoando da cúpula do PSDB, que mantém uma aliança velada com Cunha, Betinho soa enfático:

"A velocidade dos fatos impressiona. Já se sabe que foi usado o passaporte para a abertura de contas na Suíça, há o endereço de uma empresa dele, o banco confirma as contas, o Ministério Público também confirma. Tudo isso exige um posicionamento do partido. É inevitável. Defendo o afastamento imediato de Eduardo Cunha da presidência da Câmara."

Betinho se descolou da posição oficial do PSDB desde a semana passada. E espera que o partido o acompanhe. "A situação, que já era grave quando delatores acusavam Eduardo Cunha, piorou muito com as novas revelações. Eu me antecipei. A opinião pública nos observa. Não dá para ficar indefinido nessa matéria. Hoje, em função da demora, o partido tem que dar explicações."

Segundo Betinho, "o foco central da bancada do PSDB na Câmara tem sido o impeachment de Dilma". Mas ele pondera: "É preciso ter cuidado para não sermos atropelados pelos fatos. Já externei minha posição na bancada. Outros colegas manifestaram preocupação. Começam a surgir sinais de que a cúpula partidária compreende que não dá mais para manter esse apoio velado ao Eduardo Cunha. Sinto que há uma tendência de mudança para a semana que vem."

Na próxima terça-feira, o PSOL protocolará no Conselho de Ética uma representação pedindo a cassação do mandato de Eduardo Cunha. Desde logo, o tucano Betinho Gomes diz que não levará em conta as conveniências partidárias. "Vou julgar com base nos fatos, não por interesses políticos ou por eventuais desejos de preservar o personagem para atingir outros objetivos. Isso não vai ser observado por mim."

Filiado ao DEM, outro partido que dá suporte a Eduardo Cunha, o deputado baiano Paulo Azi, titular do Conselho de Ética, também declara que, na hora de julgar, não levará em conta eventuais acordos partidários com Cunha em torno do impeachment de Dilma. "Não me pautarei por isso. Absolutamente, não. Meu papel no Conselho de Ética é o de avaliar se os fatos apresentados constituem quebra de decoro, independentemente de quem seja o acusado."

Paulo Azi se esquiva de antecipar julgamentos. "Evito falar de meu sentimento pessoal porque a relatoria do processo pode cair para qualquer membro do Conselho. Não convém antecipar posições. Mas, de maneira geral, se existe uma representação, é preciso avaliar as evidências, buscar as provas, assegurar o direito de defesa e verificar se houve quebra de decoro parlamentar".

Acha que a mentira sobre contas secretas na Suíça constitui quebra de decoro?, perguntou o blog. E Paulo Azi: "O deputado Eduardo Cunha tem dito, por meio de notas, que reitara aquilo que dissera na CPI da Petrobras, ou seja, que não tem contas. Lembro do caso do ex-senador Luiz Estevão. Foi cassado justamente porque fez um discurso e, depois, verificou-se que tinha faltado com a verdade. Esse é um ponto que configura quebra de decoro. Agora, é preciso avaliar os fatos e as justificativas que o Eduardo Cunha vai dar."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.