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Josias de Souza

Cunha se autodesnuda ao pedir sigilo de contas

Josias de Souza

03/11/2015 18h56

Alan Marques/Folha

O contrário do anti-Cunha primário é um pró-Cunha inocente, que aceita toda a presunção de honestidade do presidente da Câmara a seu próprio respeito. Em matéria de ética, isso inclui concordar com a alegação segundo a qual Eduardo Cunha, por imaculado, não abriu quatro contas clandestinas na Suíça para esconder dinheiro de má origem.

Todos os políticos cultivam seus mitos de honorabilidade. Porém, depois que vieram à luz os dados oficiais sobre as contas que Cunha jura que não abriu na Suíça —do passaporte do beneficiário às faturas do cartão de crédito da madame— a prentesão do deputado de ser uma potência moral aproximou-o do Paulo Maluf —ou do ridículo, que muitos acham que é a mesma coisa.

Nesta terça-feira (3), Eduardo Cunha requisitou pela segunda vez ao ministro Teori Zavascki, do STF, a decretação do sigilo dos dados sobre as contas suíças que ele jura que não são suas. Com o primeiro pedido, indeferido por Teori, Cunha tornara-se um personagem sem nexo. Com a reiteração, Cunha se autodesnudou. Por ironia, o deputado ficou nu exatamente no dia em que o Conselho de Ética da Câmara abriu o processo que, em tese, pode levar à sua cassação.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.