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Josias de Souza

Velho aos 36 anos, o PT virou um partido gagá

Josias de Souza

26/02/2016 18h52

O PT tornou-se um partido velho aos 36 anos de idade. Sofre com os percalços da velhice. Com deficiência neurológica, tem dificuldades para compreender sua própria realidade. Acorrentou-se à fábula da perseguição. O partido não se vê como um problema. O universo é que é o problema do PT.

Na véspera da grande festa de aniversário do PT, o diretório nacional da legenda divulgou mais uma de suas resoluções. No texto, denuncia a "ameaça à legalidade democrática" embutida na Lava Jato. Nessa versão, democracia é o PT se transformar em máquina coletora de dinheiro. E ditadura é o juiz Sérgio Moro e Cia. punirem o roubo.

O PT se refere a Lula como vítima de campanha "vil e asquerosa". Querem impedi-lo de disputar a Presidência em 2018 —um "impeachment preventivo". Injusto, já que Lula, por inimputável, dispõe de presunção vitalícia de inocência. O mito está casado com a honestidade. Até que a Odebrecht ou a OAS os separe.

O PT chama de golpe os processos que esquadrinham as arcas da campanha de Dilma. Natural. Depois que a defesa da presidente sustentou no TSE que o comitê não pode ser responsabilizado por eventuais verbas sujas doadas à campanha, todo mundo ficou desobrigado de fazer sentido no Brasil.

O documento do PT pede à militância partidária que fique em estado de "mobilização permanente", para defender Dilma. Simultaneamente, o partido prepara um ataque à presidente. Elabora um programa econômico que propõe o avesso de tudo o que Dilma considera vital para superar a crise. Auto-oposição! Coisa de tantã.

O PT enxerga-se como uma família. Vivia às turras, mas se gabava de ser limpinha. Como toda família, o partido também está sujeito a apodrecer. Um dia aparece um primo escroque, dois ou três tios corruptos, um pai aproveitador, uma mãe maluca… Quando tudo ocorre ao mesmo tempo, ou o partido enlouquece ou se faz de gagá.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.