Topo

Josias de Souza

Relator deve recomendar aprovação do impeachment em comissão até quinta

Josias de Souza

04/04/2016 03h55

Enquanto Dilma Rousseff repete o mantra segundo o qual "não vai ter golpe", o processo de impeachment avança. Relator da comissão que trata do tema na Câmara, o deputado Jovair Arantes (PTB-GO) pretende apresentar seu parecer até quinta-feira. O Planalto suspeita que Jovair, um soldado da infantaria de Eduardo Cunha, redige o documento com a caligrafia do presidente da Câmara. Dá-se de barato que o deputado votará a favor do impedimento.

Nesta segunda-feira, vence o prazo para que Dilma apresente, por escrito, sua defesa junto à comissão do impeachment. A peça converterá o processo num "golpe" sui generis, condicionado ao amplo direito de defesa. O "atentado à democracia" ficará ainda mais inusitado no final da tarde, quando o ministro petista José Eduardo Cardozo, advogado-geral da União, comparecerá à comissão para fazer a defesa oral da presidente. Remunerado pelo contribuinte, repetirá que "não há base legal" para o impedimento.

Cumpridos os rituais da defesa e da acusação, os membros da comissão estarão aptos para deliberar. O regimento prevê que os deputados poderão pedir vista do processo. O que deve empurrar a decisão final da comissão para a semana que vem. O Planalto está pessimista. Avalia que formou-se na comissão uma maioria contra o governo.

Numa articulação comandada por Lula, rebaixado da condição de ex-presidente para a de ex-quase-futuro-ministro, o governo se equipa para tentar reverter no plenário da Câmara a tentedência pró-impedimento. Faz isso golpeando as mais trivais noções de ética e moralidade, negociando cargos e verbas com políticos que precisam de interrogatório, não de negociação.

A despeito da atmosfera de amoralidade, o governo ainda não obteve as 172 adesões de que precisa para evitar que a oposição chegue aos 342 votos necessários à aprovação do impeachment na Câmara e o consequente envio da peça para o Senado.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.