Banqueiro indiciado é vestígio de um novo país
Até bem pouco, nenhuma revelação abalava o prestígio de uma eminência empresarial no Brasil. Mesmo quando apanhados de mau jeito, os empresários continuavam fornecendo matéria-prima às colunas sociais, publicando artigos nos cadernos de economia e distribuindo conselhos a presidentes da República e ministros. Ao indiciar na Operação Zelotes o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, a Polícia Federal oferece mais um vestígio de que algo de muito novo sucede no país: o braço punitivo do Estado tornou-se mais longo e menos seletivo.
Apura-se na Zelotes o pagamento de propinas para cancelar ou abater dívidas lançadas pela Receita Federal. A Procuradoria já denunciou na mesma operação o dono do Banco Safra, Joseph Safra. O rol de indiciados, que já incluía gente como o presidente do Grupo Gerdau, André Gerdau Johannpeter, é adensado agora por Trabuco e outros nove encrencados.
Considerando-se que a Lava Jato já levou à cadeia os barões da construção civil e que o mais poderoso deles, Marcelo Odebrecht, faz uma delação que abalará os pilares da República, já se pode dizer que a farra não está acabando apenas para os políticos. Aos pouquinhos, a elite empresarial brasileira também perde sua sua invulnerabilidade.
Até ontem, os contatos de Luiz Trabuco com o Estado ocorriam nos palácios do Planalto e do Alvorada. Era conselheiro econômico de Lula. Dava-se muito bem com Dilma. Reeleita, madame convidou-o para chefiar o Ministério da Fazenda. Agora, Trabuco defende-se noutras repartições públicas de cinco imputações: corrupção passiva, corrupção ativa, tráfico de influência, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Sinal dos tempos.
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