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Josias de Souza

Julgamento de Dilma tem lances de botequim

Josias de Souza

26/08/2016 15h22

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O Parlamento ainda é o melhor entreposto que a sociedade civilizada encontrou para dissolver seus conflitos de forma pacífica. Nesse universo, vigora a máxima segundo a qual as regras são menos perigosas do que a imaginação. A tática protelatória dos partidários de Dilma não orna com o regimento nem com o rito que havia sido negociado com o presidente do STF. A reação dos defensores da guilhotina não encontra amparo na inteligência. Apressados, caem em todas as armadilhas montadas pela turma da protelação.

A essa altura, a plateia deseja que seja feita a contagem dos votos. A truculência e as garrafadas não ornam com o ambiente político de uma Casa que traz o busto de Rui Barbosa exposto em posição de destaque, acima da mesa diretora. A sessão foi retomada depois do almoço com a promessa de que os coldres serão deixados do lado de fora do plenário. O excesso de eletricidade ainda é perceptível. Resta ao contribuinte, que financia o espetáculo, torcer. Até porque a coisa custa caro.

Afora toda a crise, a quebradeira de empresas e os 12 milhões de desempregados, há os salários dos 82 atores (Lewandowski, mais 81 senadores), a despesa com transporte e hospedagem das oito testemunhas, o custo do palco, da iluminação, do som, do cafezinho e da TV para transmitir. Não é só: você financia toda a estrutura oferecida aos julgadores para se preparar —o gabinete, os assessores, a casa, a comida, a roupa lavada, o computador, o papel e a tinta da impressora. O mínimo que você pode exigir é celeridade e respeito. Quem quiser brigar, que se pegue na rua. Ou num boteco.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.