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Josias de Souza

Senadores levam ao freezer reajuste do Supremo

Josias de Souza

09/09/2016 04h56

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Sob pressão da opinião pública, do tucanato e de parlamentares que se definem como independentes, o Senado decidiu enviar para o freezer projetos de lei que elevam os vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal e do procurador-geral da República de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil. Retirou-se da pauta um requerimento do PMDB, subscrito por outros partidos, para que as propostas fossem votadas a toque de caixa, em regime de urgência.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), anunciou a meia-volta no final da sessão noturna desta quinta-feira. Ele havia prometido ao presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, que os reajustes salariais seriam submetidos a votação. Recuou depois de receber a visita da ministra Cármen Lucia, que assumirá o comando da Corte na segunda-feira (12). A sucessora de Lewandowski não é uma entusiasta do sindicalismo em causa própria.

O recuo de Renan foi precedido de manifestações de senadores que se opõem ao reajuste das togas do Supremo e do procurador. Esses aumentos desceriam em cascata pela administração pública, engordando contracheques em todo o Judiciário, no Ministério Público e nos altos escalões do governo federal. Até os deputados e senadores ganhariam um pretexto para reivindicar aumento. Renan agora defende que os salários dos ministros do Supremo sejam desvinculados dos demais.

Líder do governo Temer no Senado, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) sugeriu que os projetos tivessem tramitação regular, sem o selo da urgência. Também discursaram contra os reajustes Paulo Bauer (PSDB-SC), Ricardo Ferraço (PSDB-ES), Ronaldo Caiado (DEM-GO), Reguffe (sem partido-DF), Hélio José (PMDB-DF), Benedito de Lira (PP-AL), José Aníbal (PSDB-SP) e Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE).

Dona de um estilo de vida austero, quase monastic, Cármen Lucia parece ter provocado no Senado um surto de sensatez com sua chegada ao comando do Supremo. Num instante em que a recessão engole folhas de pagamento, submetendo 12 milhões de brasileiros à humilhação do desemprego, elevar os vencimentos dos doutores seria o mesmo que flertar com o escárnio.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.