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Josias de Souza

Milícias fazem do Rio faroeste sem John Wayne

Josias de Souza

29/09/2016 19h13

Existe o Rio de Janeiro e existe o "Rio de Janeiro". Existe a cidade, existe o Estado e existe tudo o que está implícito quando se diz "Rio de Janeiro." Sem aspas, o Rio é o cartão postal do Brasil. Seus habitantes desbravam novas fronteiras sem sair da praia. Com aspas, o Rio é uma espécie de filme de faroeste sem um John Wayne, alguém para carregar a virtude no coldre de xerife e distribuir rajadas de civilização sempre que necessário.

Ainda ontem, o Rio encantava o mundo cedendo sua exuberância natural para servir de pano de fundo para as Olimpíadas. Hoje, o "Rio" constrange o país com a ousadia de milicianos que fazem da violência o pretexto para sua existência. Noutros tempos, o atraso localizava-se nos fundões de Estados como Alagoas. Agora, a capital carioca e pedaços da Baixa Fluminense viraram uma Alagoas hipertrofiada. Ali, instalou-se uma miliciocracia.

As milícias cobram pedágio para autorizar candidaturas. Quem não paga morre. Desde dezembro, foram passados nas armas 14 candidatos. Ou o Estado brasileiro prova que é capaz de adicionar mocinhos como protagonistas desse enredo ou a exuberância do Rio sem aspas será desmascarada. E a violência do "Rio" com aspas perderá todos os seus disfarces.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.