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Josias de Souza

Temer ajustou posição sobre anistia três vezes

Josias de Souza

27/11/2016 03h35

No intervalo de apenas 13 dias, Michel Temer promoveu três ajustes em suas manifestações sobre a pretensão dos congressistas de aprovar algum tipo de anistia para o crime de caixa dois. Como presidente da República, Temer tem o   dever constitucional de deliberar sobre projetos aprovados no Legislativo. Pode sancioná-los ou vetá-los. Daí a relevância de saber o que pensa sobre o tema.

No início, Temer trazia sua opinião sobre a anistia na coleira, evitando soltá-la em público. Em entrevista ao programa Roda Viva, exibida pela TV Cultura em 14 de novembro, fugiu do assunto: "Esta é uma decisão do Congresso. Eu não posso interferir nisso."

Reiterou sua posição em conversa com o blog, veiculada aqui em 16 de novembro: "Se eu dou uma opinião desde já, quando surgir a hipótese de sanção ou veto, já estou comprometido com a opinião que eu dei, sem ter uma discussão final do Congresso Nacional. Tenho uma cautela extraordinária, até um pouco exagerada em relação a isso. Quero evitar qualquer espécie de autoritarismo do tipo: 'eu estou decidindo assim ou assado'."

No início da semana, Temer foi consultado por seus aliados na Câmara. Privadamente, sinalizou que não teria dificuldades em sancionar um artigo perdoando os políticos que receberam verbas para suas campanhas via caixa dois, diferenciando-os daqueles que embolsaram propinas.

Súbito, Temer passou a difundir posição oposta. Autorizou seus interlocutores a espalharem que vetará qualquer tipo de anistia que lhe chegue à mesa. Simultaneamente, combinou com Renan Calherios e Rodrigo Maia, presidentes do Senado e da Câmara, um esforço para tentar matar o assunto no próprio Congresso. Assim, Temer nao precisaria passar pelo desgaste do veto.

Deve-se o posicionamento mais incisivo de Temer a um fenômeno que um de seus ministros chamou de "Efeito Geddel." Acusado de se envolver no esforço para liberar a construção do prédio onde seu ex-coordenador político Geddel Vieria Lima tem um apartamento, Temer é malhado no noticiário e nas redes sociais.

O endurecimento da posição sobre a anistia do crime de caixa dois, outro foco de desgaste, é uma tentativa de Temer de atenuar a pancadaria que transforma a crise atual no pior momento de sua curta gestão de seis meses.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.