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Josias de Souza

Oligarquia política apertou o botão de ‘dane-se’

Josias de Souza

08/02/2017 21h12

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A ideia de que é preciso firmar um pacto para "estancar a sangria" da Lava Jato, exposta por Romero Jucá numa gravação, virou um fantasma que, de vez em quando, sacode seu lençol sobre Brasília. Nesta quarta-feira, indicou-se para presidente da mais importante comissão do Senado, a Comissão de Constituição e Justiça, o senador Edison Lobão, encrencado na Lava Jato. Acomodado nessa cadeira, Lobão comandará a sabatina de candidatos a ministro do Supremo Tribunal Federal e a procurador-geral da República.

Tomada assim, como um fato isolado, a escolha de alguém como Lobão para presidir a principal comissão do Senado seria apenas um absurdo. Mas o inaceitável assume ares de inacreditável quando se considera tudo o aconteceu em Brasília num intervalo de menos de dez dias.

Antes da ascensão de Lobão, Michel Temer havia fornecido a Moreira Franco, amigo delatado pela Odebrecht, o escudo do foro privilegiado. O presidente também indicou para o Supremo o ministro tucano Alexandre de Morais. E levou ao balcão a pasta da Justiça. O PMDB, que sangra na Lava Jato, está no primeiro lugar da fila, pronto para abocanhar o ministério que controla a Polícia Federal.

Nas presidências da Câmara e do Senado já haviam sido acomodados dois delatados da Odebrecht, Rodrigo Maia e Eunício Oliveira. Agora, Edison Lobão. Ele chega ao topo da CCJ empurrado por Renan Calheiros e José Sarney, que dispensam apresentação. Tudo isso aconteceu em menos de dez dias. Em Brasília, a união faz a farsa. À procura de um torniquete, a oligarquia política decidiu ligar o botão de dane-se!

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.