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Josias de Souza

STF fecha usina de anistia a grevistas armados

Josias de Souza

05/04/2017 21h13

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A decisão do Supremo Tribunal Federal de proibir a greve de policiais e todos os servidores que trabalham no setor de segurança pública deve pôr fim a um tipo de emboscada que congressistas se acostumaram a armar contra a sociedade brasileira. Num intervalo de cinco anos, entre 2011 e 2015, o Congresso anistiou delitos praticados por policiais militares e bombeiros que fizeram greve ilegalmente em 22 Estados e no Distrito Federal. Essa farra da anistia tornou-se um estímulo às paralisações de corporações armadas.

Embora tenha sido provocada por uma desavença entre o governo de Goiás e a polícia civil goiana, a decisão do Supremo terá repercussão geral. Significa dizer que vale para todo o país. Ironicamente, prevaleceu na Suprema Corte um voto do ministro Alexandre de Moraes, que até ontem era ministro da Justiça de Michel Temer. Comandava a Polícia Federal, cujos agentes se declararam nesta quarta-feira "em estado de greve", em protesto contra a reforma da Previdência.

A farra do perdão a policiais amotinados começou em 2011, no Senado, com um projeto que se destinava a livrar a cara de 439 bombeiros processados por depredar um quartel no Rio de Janeiro durante uma greve. Os parlamentares enfiaram nesse mesmo projeto o perdão para PMs grevistas de 14 Estados. E a coisa não parou mais. Com a proibição do Supremo, os Estados terão de azeitar os seus canais de negociação com as forças de segurança. Um pouco de ordem na bagunça é sempre bom. Mas contas em atraso e geladeira vazia constituem um convite à desobediência.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.