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Josias de Souza

Hecatombe da Odebrecht intima o eleitor a agir

Josias de Souza

12/04/2017 22h09

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Imagine que você é um brasileiro atento ao cenário político e tem uma namorada chamada Janete com quem gosta de trocar ideias sobre a conjuntura. Imagine que você foi às ruas pedir a saída da Dilma e torce pelo Temer. Imagine que você já tem em quem votar na eleição de 2018 e conta com a recuperação da economia para pedir um aumento de salário ao chefe. Depois da hecatombe provocada pela colaboração da Odebrecht, recomenda-se que você telefone imediatamente para sua namorada Janete. Ela pode ser a única coisa que lhe restou.

Os plenários da Câmara e do Senado foram desligados da tomada já na tarde de terça-feira. O Planalto vive a neurose do que está por vir. Cercado de ministros e aliados suspeitos e temendo o pior, Temer levou os lábios ao trombone: "Não podemos paralisar o governo", ele disse. Há cadáveres demais no noticiário. Mas o caráter pluripartidário da autópsia fez desaparecer do necrotério o contraditório. Ninguém se anima a jogar pedras no outro. Sujos e mal lavados estão todos sob o mesmo telhado de vidro.

Digam o que disserem da Odebrecht, não se pode deixar de admirar o seu caráter democrático. O departamento de propinas da empreiteira comprou políticos de todas as ideologias. À medida que forem avançando as investigações você vai conhecer a cotação de cada um. Um Renan vale quantos Padilhas? Os reis da política estão todos nus. A nudez é tão generalizada que corre-se o risco de eles tentarem te convencer de que foi inventado um novo tipo de tecido. Dirão que é belo e resistente, mas completamente invisível para os pessimistas. Não caia nessa. Se encontrar sua namorada Janete discuta com ela o que fazer. O futuro da democracia nunca esteve tão nas mãos do eleitor como agora.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.