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Josias de Souza

Não há o que celebrar no feriado de 1º de Maio

Josias de Souza

01/05/2017 20h56

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Mesmo com o risco de parecer um estraga-festas, é preciso proclamar: não há o que celebrar neste 1º Maio. Como festejar o Dia do Trabalhador depois que o IBGE informou que há na praça 14,2 milhões de desempregados? Parece claro que algo precisa ser feito. Crises como a atual são oportunidades dramáticas para o entendimento. Mas o Brasil não costuma perder a oportunidade de perder uma boa oportunidade.

Veja se você consegue entender o drama nacional: reeleita, Dilma tentou empinar reformas como a terceirizaçao da mão de obra e ajustes na Previdência. Ela queria retirar o Brasil do abismo econômico que ela mesma cavou. Mas a afilhada de Lula caiu antes que pudesse superar suas contradições. Agora, criador e criatura lideram o movimento antirreformas.

No momento, o PT e seus satélites torpedeiam Michel Temer por propor versões radicalizadas de reformas que Lula e Dilma defenderam e tentaram implementar nos seus respectivos governos. Esse embate conspira contra o ajuste de uma legislação que não foi capaz de evitar o desemprego em massa.

Por trapaça do destino, a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal é datada de 1º de Maio do ano de 1.500. Esse texto, espécie de certidão de nascimento do Brasil, retrata uma terra de sonhos, utópica. Depois das caravelas, vieram a dívida pública, a corrupção e a politicagem. Junto com tudo isso, veio a legião de desempregados que, hoje, é maior do que toda a população de Portugal. Aos pouquinhos, o Brasil vai se consolidando como uma grande piada de português. Piada de mau gosto.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.