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Josias de Souza

Alckmin flerta com a eleição presidencial indireta

Josias de Souza

26/05/2017 05h25

O governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) analisa a hipótese de participar da eleição indireta à Presidência da República se Michel Temer for apeado do cargo. Ele ainda não tomou uma decisão. Mas executa uma coreografia de candidato. Após consultar juristas, concluiu que pode entrar na disputa sem renunciar à poltrona de governador. Bastaria pedir licença do cargo. Recebeu estímulos de outros governadores. E trocou ideias com membros do seu grupo político.

A briga pela poltrona de Temer ganhou novos contornos. Alckmin e os apologistas do seu projeto presidencial concluíram que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), tornou-se franco favorito na corrida pelo trono. Perceberam que não está em jogo apenas o mandato-tampão do substituto constitucional de Dilma Rousseff. Na prática, disputa-se uma prévia de 2018. O escolhido do Congresso se converterá num candidato automático à reeleição.

Obcecado pelo Planalto, Alckmin passou a considerar que o melhor protagonista do PSDB nesse enredo talvez seja ele próprio, não o senador Tasso Jereissati (CE), que substituiu Aécio Neves no comando do partido e foi alçado à lista de opções presidenciais. Tasso esteve em São Paulo nesta quinta-feira. Reuniu-se com Alckmin, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o prefeito João Doria.

Operadores políticos de Alckmin atribuem o favoritismo de Rodrigo Maia a quatro fatores:

1) Como presidente da Câmara, ele leva vantagem no jogo de sedução dos 513 deputados, um "eleitorado" mais de seis vezes maior do que os 81 votos disponíveis no Senado;

2) Além de ter bom trânsito na maioria das bancadas, Rodrigo Maia alarga a banda esquerda do seu cesto de votos atraindo o ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (PCdoB-SP) para ocupar o posto de vice na sua chapa.

3) Genro do ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), Maia desfila nos bastidores como uma espécie de Plano B do próprio Temer, cacifando-se para receber parte dos votos do PMDB.

4) Na hipótese de afastamento de Termer, Rodrigo Maia assumirá a Presidência da República para convocar as eleições indiretas em 30 dias. Nesse intervalo, colocaria a máquina federal a serviço de sua permanência no cargo.

Pelas contas do grupo de Alckmin, Rodrigo Maia estaria muito próximo de colecionar algo como 300 dos 513 votos da Câmara. Alckmin entraria na briga com cerca de 150 votos. E teria de molhar a camisa para alcançar o rival. Imagina que, além dos votos do tucanato, arrastaria o grosso do PSB e do PPS, além de pedaços de legendas como PV, PP, PR, PTB, PSD e assemelhados.

A despeito de todas as dificuldades, os partidários de Alckmin avaliam que sua hipotética candidatura presidencial teria mais chances de êxito do que a de personagens como Tasso e o ex-ministro Nelson Jobim. Resta saber se Alckmin terá disposição para comprar a briga. Alckmin e Rodrigo Maia têm algo em comum além do desejo de sentar na cadeira de presidente: ambos têm contas a ajustar com a Operação Lava Jato. Foram mencionados nas delações da Odebrecht.

Maia, o "Botafogo" das planilhas da construtora, é investigado no Supremo Tribunal Federal. O processo contra Alckmin foi remetido ao Superior Tribunal de Justiça, o foro próprio dos governadores. Mas as complicações de ambos não parecem fazer diferença numa eleição que será definida pelos votos dos clientes de caderneta da Lava Jato e de outras encrencas criminais.

– Atualização feita às 14h32 desta sexta-feira (26): Geraldo Alckmin disse, em entrevista, que não é candidato em eleição indireta. "Essa não é a discussão. Agora, é ajudar a passar a crise", declarou, abstendo-se de comentar a consulta feita a juristas, os contatos com outros governadores e a movimentação de seus operadores políticos.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.