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Josias de Souza

Segunda denúncia contra Temer virá em agosto

Josias de Souza

28/06/2017 05h45

A Procuradoria-Geral da República sinalizou ao Supremo Tribunal Federal que a segunda denúncia contra Michel Temer só deve ser protocolada em agosto. Nela, o presidente será acusado do crime de obstrução de Justiça. O procurador-geral Rodrigo Janot sustentará que Temer avalizou a compra do silêncio de Eduardo Cunha pelo empresário Joesley Batista, da JBS.

Nesta terça-feira, ao se pronunciar sobre a primeira denúncia, em que é acusado de corrupção passiva, Temer falou sobre a suspeita que o vincula à operação para evitar a delação de Cunha. Contestou o trecho da gravação que servirá de matéria-prima para acusação. (assista abaixo).

Rodrigo Janot deixará a chefia do Ministério Público Federal em 17 de setembro. Portanto, a segunda denúncia contra Temer ainda trará a sua assinatura. O procurador-geral sustenta que suas convicções foram reforçadas pela perícia feita pela Polícia Federal na gravação do diálogo que Temer travou o delator Joesley Batista, da JBS, em 7 de março, no Palácio do Jaburu.

Vai abaixo a reprodução do trecho do audio que fundamentará a segunda denúncia:

Joesley: "Fiz o máximo que deu ali, zerei tudo, o … O que tinha de alguma pendência daqui para ali. Zerou, tal…".

Temer: "Tudo".

Joesley: Liquidou tudo e ele foi firme em cima, lá, veio, cobrou, tal, tal, tal. Eu pronto. Acelerei o passo e tirei da frente".

A conversa prossegue. E o interlocutor noturno de Temer menciona novamente o nome de Cunha, hoje preso em Curitiba.

Joesley: "Estou de bem com Eduardo".

Temer: "Muito bem".

Joesley: "E…".

Temer: "Tem que manter isso, viu?".

Joesley: "Todo mês".

Temer: "O Eduardo também, né?".

Joesley: "Também".

Temer: "É…".

Joesley: "Eu estou segurando as pontas, estou indo".

Temer: "É".

Em meio às críticas que endereçou a Janot, Temer fez referência à tática do "fatiamento". "Ainda se fatiam as denúncias para provocar fatos semanais contra o governo", disse o presidente. "Querem parar o país, parar o Congresso, num ato político com denúncias frágeis e precárias. Atingem a presidência da República."

Em verdade, a Procuradoria alveja o presidente, não a Presidência. De resto, Temer fala em paralisia do Congresso porque sabe que sua reforma previdenciária subiu no telhado. Com nova denúncia em agosto, aí mesmo é que a proposta irá para as calendas gregas.

Hoje, o presidente molha a camisa para atrair os 172 deputados de que precisa para rejeitar as denúncias no plenário da Câmara. Já não desperdiça energias perseguindo os 308 votos que seriam necessários para aprovar a reforma da Previdência. Confirmando-se a segiunda denúncia e agosto, aí mesmo é que a reforma previdenciária subirá no telhado.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.