Temer cavou sua cova ao dar as costas à ética
Michel Temer está aborrecido. Um auxiliar do presidente conta que ele se considera injustiçado. Reclama da imprensa, que não reconhece os seus feitos. Queixa-se da Procuradoria, que atrapalha o seu sucesso. Temer diz que herdou de Dilma o caos. E, com coragem, tirou o país do buraco.
Mesmo reservadamente, o presidente fala de si mesmo como se fosse um ser especial. Não é o cinismo de Temer que espanta. O que assusta é que ele acredita mesmo que tem uma missão de inspiração divina e, portanto, indiscutível.
Com apenas 7% de popularidade, o presidente não dispõe do suporte da sociedade. E perde em ritmo preocupante o apoio do Congresso e do empresariado. Mas Temer fala do seu governo e de suas realizações, em público e entre quatro paredes, como se estivesse acometido do pior tipo de ilusão: a ilusão de que preside.
Antes de viajar para a reunião do G-20, na Alemanha, Temer jogou na internet um vídeo ufanista. Nele, enumerou as conquistas que se autoatribui. E disse que o Brasil já é outro. Tem razão.
Quando Temer assumiu, referia-se à Lava Jato como uma referência a ser protegida. Hoje, seus ministros e apoiadores estão presos ou sitiados por inquéritos. E o presidente foi denunciado por corrupção.
Temer cometeu o erro primário de imaginar que poderia governar de costas para a ética. E acha que não se deve comprometer a salvação do país por algo tão supérfluo como a moralidade.
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