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Josias de Souza

‘Impasse pode produzir Frankstein ou Miss Brasil’

Josias de Souza

23/08/2017 15h32

Sem consenso sobre a reforma política, a Câmara definirá as regras para as eleições de 2018 no escuro, sem saber o que resultará da votação em plenário. Após dois adiamentos, os deputados tentam concluir a apreciação da proposta nesta quarta-feira. Presidente da comissão que elaborou o pacote de modificações, o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), disse ao blog que a atmosfera é de incerteza: "O impasse pode produzir um Frankstein ou uma Miss Brasil." Vai abaixo a entrevista:

— Acha que será superado o impasse sobre a reforma política? Nós tentamos construir um consenso ou pelo menos uma ampla maioria. Sem isso, vamos a voto. Quando uma matéria vai a voto nessas circunstâncias, pode sair de tudo. O impasse pode produzir um Frankstein ou uma Miss Brasil. Ou pode não produzir nada, o que nos levaria ao pior dos mundos. Vamos passar para a sociedade a impressão de que não temos a capacidade de aprovar nem uma lei eleitoral. Se não aprovamos isso, vamos aprovar o quê?

— O que seria uma reforma Miss Brasil? Na atual conjuntura, o melhor seria aprovarmos o sistema com o 'distritão' e financiamento público.

— O fundo será mesmo de R$ 3,6 bilhões? O valor do fundo eleitoral seria definido posteriormente, na discussão do Orçamento, podendo deslocar recursos de fontes já existentes, como o Fundo Partidário e as emendas orçamentárias de bancada.

— O que faria da reforma um Frankstein? Será péssimo se não fizermos nada. Será trágico se aprovarmos o financiamento eleitoral público sem o 'distritão', mantendo o sistema atual, de eleição proporcional. Nesse modelo, os partidos são estimulados a lançar inúmeros candidatos. No final, o fundo público será pulverizado. E não cumprirá a sua função.

— Muitos parlamentares voltaram a defender a volta das doações eleitorais de empresas. Isso pode acontecer? Numa votação sem consenso, pode dar qualquer coisa. Mas a volta do financiamento privado, se acontecer, será inexplicável. Uma coisa que era tratada como fonte de todos os males do mundo, que deu em Lava Jato, com todas as delações e prisões, não pode virar agora um mecanismo angelical apenas por que o Congresso não chegou a um consenso sobre a reforma política. Não creio que a sociedade queira isso.

– Atualização feita às 21h11 desta quarta-feira (23): Na terceira tentativa de votar a reforma política, os deputados conseguiram apenas excluir do texto os R$ 3,6 bilhões que seriam destinados ao fundo público de financiamento das eleições. O valor a ser retirado do bolso do contribuinte para bancar as campanhas será definido posteriormente, na Comissão de Orçamento. Adiou-se um problema. Protelou-se também, pela terceira vez, a votação da reforma. Ficou para a semana que vem. Leia aqui.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.