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Josias de Souza

Transição de Janot para Dodge exclui informações sobre caso Michel Temer

Josias de Souza

25/08/2017 03h36

O processo de transição da gestão de Rodrigo Janot para Raquel Dodge na Procuradoria-Geral da República foi contaminado pelo vírus da desconfiança. A apenas 24 dias da troca de comando, a equipe de Janot não compartilhou com a nova procuradora-geral ou com seus futuros auxiliares os dados sobre a investigação que envolve Michel Temer. Mantida a atual política do pé atrás, Dodge só deve tomar conhecimento do que está por vir quando a segunda denúncia contra o presidente da República estiver pronta para ganhar as manchetes.

Janot se equipa para denunciar Temer novamente perante o Supremo Tribunal Federal antes de 17 de setembro, quando expira o seu mandato à frente da chefia do Ministério Público da União. Não é por falta de matéria-prima que sua sucessora vem sendo mantida no escuro. A preparação da peça acusatória está em estágio avançado. Incluirá informações extraídas da colaboração judicial do doleiro Lúcio Funaro. O acordo de delação foi firmado na última terça-feira. Raquel Dodge herdará o acompanhamento do caso. Mas não foi informada dos detalhes.

Na mesma terça-feira, a nova procuradora-geral divulgou os nomes de 12 colegas que ocuparão os principais postos do seu staff. A julgar pela biografia de Dodge e pelo histórico dos seus escolhidos, a desconfiança de Janot é irracional e imotivada. O doutor avisara que, enquanto tivesse bambu, mandaria flechas. A tribo de sua sucessora é feita de procuradores que têm o hábito de molhar a ponta da flecha no curare —um veneno paralisante que os índios extraem de plantas do gênero Strychnos.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.