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Josias de Souza

Denúncias que Temer sepulta serão exumadas

Josias de Souza

12/09/2017 18h30

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, determinou a abertura de um novo inquérito criminal contra Michel Temer. Será mais uma oportunidade para a Polícia Federal varejar crimes atribuídos ao presidente, oferecendo à Procuradoria-Geral da República elementos para a apresentação de outra denúncia. Que os coveiros de Temer enterrarão viva.

O presidente já patrocinou o enterro, no plenário da Câmara, de uma denúncia por corrupção. Prestes a ser denunciado novamente, Temer já organizou o segundo velório. E o ministro Barroso informa que talvez exista matéria-prima para mais um cadáver. Apura-se a suspeita de cobrança de propina para beneficiar empresas operadoras de portos.

"A ninguém deve ser indiferente ao ônus pessoal e político de uma autoridade pública, notadamente o presidente da República, figurar como investigado em procedimento dessa natureza", anotou Barroso em seu despacho.

O ministro prosseguiu: "Mas este é o preço imposto pelo princípio republicano, um dos fundamentos da Constituição brasileira, ao estabelecer a igualdade de todos perante a lei e exigir transparência na atuação dos agentes públicos. Por essa razão, há de prevalecer o legítimo interesse social de se apurarem, observado o devido processo legal, fatos que podem se revestir de caráter criminoso."

Aos pouquinhos, a gestão Temer vai se convertendo num descampado moral que o presidente utiliza para desovar acusações. Há, porém, um problema: a Constituição determina que, encerrado o mandato presidencial, as encrencas terão de ser exumadas.

Quer dizer: Michel Temer pode até adiar suas culpas, alardeando que o futuro a Deus pertence. Cedo ou tarde, porém, terá de responder pelo seu passado. Deve lhe doer a imagem do drama vivido no presente por correligionários sem mandato, recolhidos à cadeia.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.