Custo da denúncia anti-Temer não vale o teatro
O mais fabuloso no Brasil dos últimos tempos é a previsibilidade do espetáculo. O brasileiro suprimiu do seu roteiro o suspense. Espanta-se cada vez menos. O Supremo Tribunal Federal decidiu enviar à Câmara a segunda denúncia da Procuradoria contra o presidente da República. Nela, Michel Temer é acusado de formar uma organização criminosa e obstruir a Justiça. E a vida cotidiana do país seguirá o seu curso normal. A nação acordará para o seu café-com-leite no horário de sempre. Todos já conhecem o final da novela.
No momento, a grande angústia dos roteiristas do Planalto não são as implicações políticas da nova denúncia, mas a cronometragem das cenas. Trabalha-se para um desfecho rápido. Exige-se dos aliados que permaneçam em suas marcas no teatro da Câmara. Ninguém pode perder a sua deixa. A orquestra tem que atacar no tempo certo, para que Temer obtenha o final feliz de mais um enterro. Consta do roteiro que a denúncia já estava jurada de morte antes de nascer.
A movimentação deve atrasar —ou inviabilizar— a reforma da Previdência. Mas a bolsa de valores continuará exibindo sua exuberância. O mercado não se importa com a integridade dos ovos. Sabe que vai tirar grande proveito da omelete. Um grupo de chatos pede a abertura de investigação contra o presidente. Mas a tropa dos preciosistas morais é diminuta. Mesmo com o reforço dos oportunistas, não tem força para esboçar uma resistência.
Considerando-se que não há mais culpados em Brasília, só inocentes e cúmplices, o ideal seria abreviar a peça. O custo da denúncia anti-Temer não vale o teatro. O princípe 'demo' Rodrigo, que no espetáculo faz o papel de Maia, um aliado fiel que hesita em se oferecer à República como alternativa, pediria a atenção do público. E ordenaria, sem mais delongas: "Que desça o caixão."
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