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Josias de Souza

Deputado ecoa general Mourão e pede "fechamento" do Congresso Nacional

Josias de Souza

21/09/2017 16h18

Defensor de uma "intervenção militar" caso o Judiciário não resolva o problema da corrupção, o general Antonio Hamilton Mourão, secretário de Economia e Finanças do Exército, ganha adeptos nos locais mais improváveis. Deputado federal pelo PTdo B do Rio de Janeiro, Benevenuto Daciolo Fonseca dos Santos, eleito em 2014 como Cabo Daciolo, aderiu à pregação do general. Em vídeo exibido na internet, ele endossou a tese da intervenção das Forças Armadas. Chegou mesmo a pedir o fechamento do Congresso Nacional.

"Não estou falando de ditadura militar", tentou explicar o deputado. "A pior ditadura que nós podemos enfrentar é a que nós estamos enfrentndo hoje, que é a da falsa democracia." Dirigindo-se a Mourão, o deputado declarou: "Eu quero deixar aqui o meu apoio ao senhor, general. Conta conosco, nós estamos juntos, para  honra e glória do Senhor Jesus. Não estamos pedindo uma ditadura militar. Estamos falando de um governo provisório. Tira os corruptos, os bandidos, que estão colocando sobre o povo uma carga muito pesada."

Cabo do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, Daciolo deu os primeiros passos de sua carreira política ao liderar, em 2011, a greve que paralisou sua corporação. Expulso pelo governo fluminense, retornou graças a uma decisão judicial. Elegeu-se pelo PSOL. Expulso da legenda, ficou sem partido até filiar-se ao nanico PTdoB. Agora, dedica-se a atear fogo no plenário da Câmara.

Nesta quarta-feira (20), além de gravar o vídeo, Cabo Daciolo alardeou seu apoio ao general Mourão da tribuna da Câmara. Fez isso numa sessão em que os deputados votavam um item da reforma política: o fim das coligações partidárias a partir das eleições de 2020. Sob vaias, pregou a intervenção das Forças Armadas e o fechamento do Legisaltivo.

Evangélico, Daciolo discursou como se falasse de um púlpito de igreja. Misturou a defesa da continuidade da investigação contra Michel Temer a uma pregação contra homossexuais, alcoólatras e adúlteros. Disse que não vão para o céu. Do mesmo modo, ele acrescentou, também não entrarão no Reino do Senhor os ladrões e os corruptos. Comparou o Congresso a uma quadrilha. Empilhou alguns partidos que considera corruptos: PMDB, PSDB, PT e PP. Vários colegas de Daciolo consideram a hipótese de protocolar no Conselho de Ética da Câmara um pedido de cassação do seu mandato.

É mesmo maravilhosa a democracia. Um deputado federal escala a tribuna da Câmara para apoiar um general golpista que o governo enfraquecido de Michel Temer não consegue punir. Como se fosse pouco, o parlamentar pede o fechamento do Legislativo. É mais ou menos como se um peixe clamasse pelo esvaziamento dos rios. A esse ponto chegamos.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.