Dodge pede depoimento de Temer em investigação sobre propina em Santos
Raquel Dodge, a nova procuradora-geral da República, pediu ao Supremo Tribunal Federal que autorize a Polícia Federal a colher o depoimento de Michel Temer. Ela deseja ouvir o presidente no inquérito que apura suspeitas de cobrança de propina em troca da edição de um decreto que teria beneficiado a empresa Rodrimar, que opera no Porto de Santos. O pedido da sucessora de Rodrigo Janot foi encaminhado ao ministro Luís Roberto Barroso, relator do processo no Supremo.
Dodge dá sequência a uma investigação solicitada por Janot. Ela fixou prazo para a conclusão do inquérito: 60 dias. A abertura da investigação criminal foi determinada pelo ministro Barroso em 12 de setembro. O magistrado considerou que os elementos de prova já produzidos eram suficientes para justificar o aprofundamento das investigações. Entre os indícios, há no processo a gravação de um diálogo entre Temer e o ex-assessor Rodrigo Rocha Loures, o homem da mala. A conversa vai reproduzida abaixo:
Loures: Está bom, presidente?
Temer: Tudo bem e você, bem?
Loures: Tudo. Tudo bem. Não, só para lhe fazer uma consulta. Agora, coisa de umas horas atrás, chegou uma informação, através do senador Wellington, que já teria sido assinado o decreto dos Portos, não sei se é verdade ou não.
Temer: Não.
Loures: Pediu para eu verificar é.
Temer: Não, não foi.
No documento enviado a Barroso, Raquel Dodge escreveu que a Procuradoria "entendeu pela instauração de investigação para melhor elucidar os fatos, de maneira não apenas a confirmar a identidade das pessoas mencionadas, como também esclarecer se e em quais circunstâncias atuaram para repassar dinheiro ilícito aos agentes públicos Michel Miguel Elias Temer Lulia e Rodrigo Santos da Rocha Loures."
Afora o depoimento de Temer, a procuradora-geral pede que sejam interrogadas várias outras pessoas. Entre elas João Baptista Lima Lima, o Coronel Lima, amigo de Temer; Gustavo do Vale Rocha, subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil; José Yunes, ex-assessor da Presidência e amigo de Temer há três décadas; e Ricardo Saud, executivo da JBS.
Dodge pede também a realização de diligências à Polícia Federal. Algumas têm o presidente como alvo. Deseja-se, por exemplo, levantar as doações eleitorais feitas pelo grupo Rodrimar a Temer, a políticos do seu grupo ou ao PMDB. O objetivo é identificar o eventual uso da Justiça Eleitoral como biombo para acobertar o recebimento de propinas.
Pretende-se descobrir também se suspeitos envolvidos no caso estiveram no Palácio do Planalto em data próxima à edição do decreto suspeito. O ofício de Dodge chegou ao Suprmo na última sexta-feira. A julgar pelo histórico das decisões de Barroso, o ministro deve autorizar o depoimento de Temer e as diligências complementares.
Não é a primeira vez que a Procuradoria pede o depoimento de Temer num caso de corrupção. Janot já havia requisitado a mesma providência no processo em que o presidente foi acusado de receber propina da JBS. Em conversa gravada pelo empresário Joesley Batista, Temer indicou o ex-assessor Rocha Loures como seu intermediário. Dias depois, em ação monitorada, a Polícia Federal filmou Loures recebendo uma mala com propina de R$ 500 mil da JBS. Janot sustentou que o dinheiro iria para Temer. O presidente nega.
Pela lei, o presidente da República tem a prerrogativa de optar por um interrogatório escrito. No caso JBS, a Polícia Federal chegou a enviar um lote de mais de oito dezenas de perguntas ao presidente. Mas Temer se recusou a responder. A movimentação da substituta de Janot, indicada para a função pelo próprio Temer. indica que o presidente não terá com a doutora o refresco que esperava.
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