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Josias de Souza

Temer não tem mais base governista. Governistas é que têm o presidente!

Josias de Souza

25/10/2017 21h12

Já se sabia que a sessão da Câmara para enterrar a segunda denúncia criminal da Procuradoria-Geral da República contra Michel Temer seria um espetáculo deprimente. Sabia-se também que o apoio legislativo ao presidente da República tem um preço. Ninguém ignorava que Michel Temer faria qualquer negócio para retirar a corda do pescoço. Mas o Planalto e sua infantaria exageraram na promiscuidade. Esqueceram de maneirar.

Para segurar a alça do caixão da segunda denúncia, os governistas fizeram exigências novas. E cobraram faturas remanescentes do sepultamento da primeira denúncia. Esgotados os cargos e as emendas orçamentárias, foram levadas ao balcão outras mercadorias: o trabalho escravo, o perdão de multas ambientais, o parcelamento de dívidas tributárias, o diabo.

Algo se perdeu entre a votação da primeira denúncia e a análise da segunda. Perdeu-se o restinho que ainda havia de recato. Temer foi tratado por seus aliados como um devedor sem crédito. Teve de pagar a fatura antecipadamente até para obter o quórum mínimo exigido para o início da votação.

Ficou entendido que o presidente não tem mais de uma base governista. Os governistas é que têm o presidente. Já não há fronteiras a separar o público e o privado. Brasília vive a apoteose do patrimonialismo.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.