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Josias de Souza

‘Lula e o Bolsonaro acabam sendo cabos eleitorais um do outro’, diz Marina

Josias de Souza

09/11/2017 04h03

Para Marina Silva, o Brasil mudou de patamar. Foi do fundo do poço para o poço sem fundo. Chegou às profundezas porque tomou gosto pela polarização. Prestes a decidir sobre sua participação na terceira campanha presidencial consecutiva, a estrela da Rede Sustentabilidade disse numa entrevista ao blog que Lula e Jair Bolsonoro, bem-postos nas pesquisas, reforçam o flagelo da cisão do país. Afirma que eles "acabam sendo cabos eleitorais um do outro". Lamenta que os "projetos de poder" restrinjam o debate sobre um "projeto de país". (veja trechos da conversa ao longo do post e assista à íntegra no rodapé)

Lula e Bolsonaro elevam a polarização à 5ª potência, diz Marina

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O repórter perguntou a Marina se a estratégia de Lula de realçar pontos positivos de seu governo em contraposição às mazelas éticas que já lhe renderam uma condenação a 9 anos e meio de cadeia seria uma versão pós-moderna do 'rouba, mas faz.' Marina soou como se concordasse com a tese. E aprofundou o raciocínio: "Antes, a gente tinha essa ideia do rouba, mas faz. Mas agora isso virou uma profusão de nomenclaturas. Tem gente que diz rouba, mas é amigo. Rouba, mas é de esquerda. Rouba, mas é de direita. Rouba, mas está fazendo as reformas. Isso não pode acontecer."

'Não roubar é uma condição sine qua non', declara Marina Silva

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Tecnicamente empatada com Bolsonaro na segunda colocação das pesquisas, Marina ainda não assume formalmente sua condição de candidata. Mas fala sobre 2018 como se já estivesse a um passo do palanque. "Em breve, estarei manifestando a minha posição. Há um desejo na Rede de que tenhamos uma candidatura própria. Não preciso ter falsa modéstia. O desejo é de que haja a minha candidatura. Assim como há também na sociedade. Mas a gente não pode ir pela lógica do poder pelo poder. Encaro política como um serviço. E, como serviço, você tem que prestar onde ele é necessário." Não parece preocupada com a escassez de meios da Rede. "Se Davi tivesse olhado para sua funda nunca teria enfrentado o gigante."

'Há um desejo na Rede de que tenhamos candidatura própria'

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Na disputa presidencial de 2014, Marina roçou o segundo turno. Sua candidatura definhou depois de sofrer um bombardeio do marketing da campanha de Dilma Rousseff. Acha que foi derrotada por uma organização criminosa?, indagou o repórter. E Marina: "As organizações criminosas estavam presentes, porque a Lava Jato está mostrando isso. Dinheiro do caixa dois, da Petrobras, dos fundos de pensão, do Banco do Brasil, de Belo Monte, da venda de medidas provisórias. O que apareceu nas investigações mostra que houve dinheiro da corrupção envolvendo as duas campanhas, tanto de quem ganhou como de quem foi para o segundo turno [Aécio Neves]."

'Organizações criminosas estavam presentes na disputa de 2014'

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Instada a declarar o que faria de diferente se chegasse à Presidência, Marina esboçou o perfil de um "governante republicano". Acha que sobreviveria ao impeachment? "A Dilma gravou até um programa [na campanha de 2014] mostrando porque eu seria cassada. Só tinha trinta e poucos deputados, não tinha a maioria no Congresso. […] Ela chegou a ter mais de 400 deputados na sua base de sustentação. Não é quatidade que mantém alguém no poder, é a qualidade." Numa referência à atmosfera de bazar que marca as relações de Michel Temer com o Legislativo, Marina pisou no calo do sucessor de Dilma: "Pagar para ter maioria não é governar, é praticar crimes."

Marina: 'Pagar para ter maioria não é governar, é praticar crimes'

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Marina respondeu a um comentário que Ciro Gomes, presidenciável do PDT, fizera sobre ela. "Não tô vendo a Marina com apetite de ser candidata", dissera Ciro. "Não vejo ela com energia. E o momento é muito de testosterona. Não elogio isso. É mau para o Brasil, mas é um momento muito agressivo e ela tem uma psicologia avessa a isso." Em timbre mais acomodatício do que bélico, Marina pespegou: "Ele fez uma crítica ao hormônio que ele representa. Logo, cheguei à conclusão de que o que está sendo necessário, talvez, seja uma visão mais acolhedora das coisas, uma visão que tenha uma noção de cuidado." Arrematou: "Para mim, o poder não é motivo de apetite. Quem tem muito apetite pelo poder acaba sofrendo de indigestão com ele. Eu tenho mesmo é compromisso com o Brasil."

Marina responde a Ciro Gomes: 'Poder não é motivo de apetite'

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No segundo turno da campanha presidencial de 2014, Marina declarou apoio a Aécio Neves. O que sentiu quando o senador tucano, pilhado pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista, foi pendurado de ponta-cabeça nas manchetes? "Quando eu vi a conversa do Aécio, tive a mesma sensação da conversa em que a Mônica [Moura, mulher do marqueteiro João Santana] relatava em relação à presidente Dilma, passando dicas para que os marqueteiros não fossem pegos pela Justiça. Não há diferença nenhuma. Quando as pessoas que têm a mais alta responsabilidade de representar a República resolvem sabotar a República, a gente tem que parar para pensar e começar a dizer: nós precisamos refundar a República." Assista abaixo à íntegra da conversa com Marina Silva:

Assista à íntegra da entrevista com a ex-senadora Marina Silva

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.