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Josias de Souza

Aposentadoria de Temer demonstra a necessidade de mudança, diz Planalto

Josias de Souza

17/11/2017 16h24

Em nota enviada ao blog, o Palácio do Planalto reconheceu que Michel Temer aposentou-se precocemente. "Realmente alcançou aos 55 anos o direito ao benefício", informa o texto. A manifestação é uma resposta ao artigo veiculado aqui sobre o cinismo da campanha publicitária em que o governo critica privilégios previdenciários dos quais o presidente é beneficiário direto. Para o Planalto, o privilégio de Temer não envenena a propaganda oficial. Ao contrário, "demonstra a necessidade de atualizar o regime previdenciário, pois, aos 77 anos, o presidente continua trabalhando intensamente pelo país."

Assina a nota Márcio de Freitas, secretário especial de Comunicação Social da Presidência da República. Ele informa que o expediente diário de Temer dura até 15 horas. "Começa a trabalhar às sete, oito horas da manhã, ao telefone para buscar soluções para o país", anota o documento. "Jornalistas testemunham rotineiramente a atividade no Palácio do Planalto todos os dias. Não raro a jornada do presidente chega às 22 horas." Para Márcio, cínico mesmo é o "colunista ocioso", que insinua que o presidente trabalha pouco.

Nos últimos cinco meses, a jornada de mouro a que Temer se submete "pelo país" mostrou-se mais efetiva na compra —com emendas orçamentárias e cargos— do apoio congressual que resultou no congelamento de duas denúncias. As peças da Procuradoria fizeram de Temer o primeiro presidente da história a ser formalmente acusado, em pleno exercício do mandato, de corrupção passiva, obstrução à Justiça e formação de organização criminosa.

O presidente preferiu manter sua reputação sub judici a permitir que o Supremo Tribunal Federal verificasse se as denúncias são consistentes, como alegam o Ministério Público e a Polícia Federal, ou ineptas. O esforço para obter o congelamento das investigações esfriou também o ânimo dos parlamentares em relação à reforma da Previdência. Lipoaspirada e desfigurada, a reforma converteu-se em minirreforma. E não não há, por ora, segurança quanto à aprovação. Sobre tudo isso, o auxiliar de Temer não disse nada.

Vai abaixo a íntegra da nota do Planalto:

O presidente Michel Temer começa a trabalhar às sete, oito horas da manhã, ao telefone para buscar soluções para o país. Jornalistas testemunham rotineiramente a atividade no Palácio do Planalto todos os dias. Não raro a jornada do presidente chega às 22 horas. Cinismo é colunista ocioso dizer que o presidente trabalha pouco, o que é a demonstração cabal de que o jornalismo abandonou a prática básica da apuração.

Michel Temer respeita o teto salarial desde que assumiu a vice-presidência da República, percebendo R$ 33,8 (valor bruto) entre vencimento mensal e aposentadoria. Realmente alcançou aos 55 anos o direito ao benefício, o que demonstra a necessidade de atualizar o regime previdenciário, pois, aos 77 anos, o presidente continua trabalhando intensamente pelo país."

Márcio de Freitas

Secretário Especial de Comunicação Social da Presidência da República

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.