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Josias de Souza

Grupo de Alckmin manobra para evitar prévias

Josias de Souza

01/12/2017 04h11

Executiva Nacional do PSDB discutiu prévias e Previdência em reunião nesta quinta-feira

O governador tucano de São Paulo sempre foi um ardoroso defensor das prévias como método de escolha dos presidenciáveis do PSDB. Entretanto, os apologistas de sua candidatura deflagraram uma manobra para inviabilizar a pré-candidatura do prefeito tucano de Manaus, Arthur Virgílio Neto, que deseja disputar com Alckmin a vaga de representante do PSDB na sucessão de 2018. A tentativa de sufocar as prévias voltou a eletrificar o tucanato.

Sem alarde, o tema foi discutido nesta quinta-feira em reunião da Executiva Nacional do PSDB. Vice-presidente jurídico do partido, o deputado Carlos Sampaio (SP) expôs um calendário tóxico, marcado pelo toque de caixa. A coisa se resolveria em dois lances. Num, a Executiva tucana aprovaria na próxima quarta-feira (6) a regulamentação das prévias. Noutro, Alckmin e Virgílio teriam que formalizar suas candidaturas na sexta-feira (8), véspera da convenção nacional da legenda.

Além da pressa, foram à mesa exigências draconianas. Para participar das prévias, os postulantes terão de obter o apoio de pelo menos um terço das bancadas do PSDB na Câmara e no Senado ou as assinaturas de 5% de todos os filiados da legenda em pelo menos nove Estados. Tudo isso no intervalo de 48 horas, entre quarta e sexta-feira da próxima semana.

Secretário-geral do PSDB, o deputado Silvio Torres (SP), espécie de porta-voz de Alckmin na bancada federal, tentou justicar a correria. Falou coisas definitivas sem definir muito bem as coisas. Alegou que é preciso resolver todas as pendências antes de sábado, porque nesse dia Alckmin será alçado ao comando do PSDB por aclamação. E não ficaria bem para o novo presidente ter que liderar a organização de prévias das quais participará como candidato.

Arthur Virgílio enviou à reunião da Executiva um observador, o advogado Mario Barros, presidente do PSDB do Amazonas. Virgílio sentiu o tapete mover-se sob seus pés ao ser informado sobre os detalhes do encontro. "Não há hipótese de eu aceitar esse arranjo", disse.

O rival de Alckmin acha que está diante de um espetáculo teatral. "Monta-se uma cena em que prepostos do meu adversário fazem todo o jogo sorrateiro antes de ele ser alçado à presidência do partido. Depois, ele entra no palco dizendo que não tomará decisões que possam dar a impressão de que legisla em causa própria. Ora, nem precisa. Já estão legislando por ele, indiretamente. Me espanta o medo que se esconde por trás dessa manobra."

Virgílio tocou o telefone para o presidente interino do PSDB, Alberto Goldman. Na conversa, lembrou que havia solicitado há tempos os dados dos filiados do PSDB, para que pudesse contactá-los. Não recebeu as informações. "Eu poderia obter o apoio de até 15% dos filiados em nove Estados. Mas como farei isso se não me deram a lista?"

Numa entrevista concedida no último mês de março (disponível aqui), Alckmin declarou o seguinte: "Democracia começa dentro de casa. A prévia não divide, a prévia escolhe. Você pode escolher numa mesa —com quatro, cinco pessoas— ou pode escolher ouvindo os que participam da vida partidária —20 mil, 30 mil pessoas. Quanto mais você ouve, menos você erra."

Alckmin prosseguiu: "Veja o modelo norte-americano. Como é que funciona com dois partidos? […] Tem primárias. Não existiria um Obama sem prévia, sem primária nos Estados Unidos. Ele não era do establishment, só chegou lá porque tem um modelo democrático. Então, eu defendo prévia para tudo: prefeito, governador, presidente."

A movimentação dos aliados de Alckmin dá à manifestação do governador sobre prévias a aparência de uma prioridade de gogó. A Executiva do PSDB já foi convocada para a próxima quarta. A pauta inclui uma discussão sobre a posição do tucanato em relação à reforma da Previdência e as prévias.

Ao farejar o cheiro de queimado, Virgílio subiu no caixote. Avisou ao presidente interino Alberto Goldman que "não há hipótese de assistir às manobras passivamente, sem fazar um escarcéu." O prefeito conta o que ouviu do presidente interino do PSDB: "O Goldman me disse que ele não encaminhará nada que se pareça com essa odiosa tentativa de impedir que eu concorra."

Virgílio soube que partidários de Alckmin tentam convencer Fernando Henrique Cardoso a procurá-lo para pedir que, em nome da unidade, desista de medir forças com o governador paulista. De antemão, avisa: "Para mim, o Fernando Henrique  é a maior referência viva do partido. Se me procurasse, eu o trataria bem, como sempre faço. Mas seria constrangedor. Posso conceder tudo, menos a honra."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.