Sob falsa pacificação, PSDB vive sua pior crise
Dizer que o PSDB perdeu a aura que o tornava diferente é pouco para traduzir sua crise, a pior que o partido já enfrentou desde o seu surgimento, há três décadas. Levado no embrulho da onda de descrédito que engolfou a política, o tucanato tornou-se um aglomerado caótico. Vão abaixo meia dúzia de evidências:
1) O PSDB declara-se pacificado sob a presidência de Geraldo Alckmin, inaugurada na convenção nacional deste sábado. Mas ainda convive nos subterrâneos com uma guerra fratricida entre as facções de Tasso Jereissati e de Marconi Pirillo (pode me chamar de centro-avante de Aécio Neves).
2) Alardeia que desembarcou do governo de Michel Temer, mas tolera a permanência de dois filiados na Esplanada: Aloysio Nunes (Itamaraty) e Luislinda Valois (Direitos Humanos).
3) O PSDB é a favor das prévias, previstas no estatuto do partido. Mas finge que Alckmin é presidenciável único, escanteando o rival Arthur Virgílio Neto, prefeito tucano de Manaus.
4) Defende a reforma da Previdência, mas não consegue entregar nem metade dos votos de sua bancada na Câmara.
5) Acusa Lula de buscar a re-reeleição para "voltar à cena do crime", mas guarda um imponente silêncio sobre o pedido de inquérito criminal que corre contra Alckmin no Superior Tribunal de Justiça.
6) Enrola-se na bandeira da ética, mas acoberta Aécio Neves, transformando a corrosão do achacador de Joesley Batista num processo de enferrujamento partidário.
Num intervalo de três anos, o PSDB desceu da antessala do poder para o purgatório. Em 2014, Aécio tivera uma derrota com fragrância de vitória, pois amealhara notáveis 51 milhões de votos. Parecia fadado a eleger-se presidente em 2018. Entretanto, tornou-se um colecionador de processos criminais —já soma nove.
A corrosão de Aécio, o prontuário de José Serra, a inconsistência de João Doria e a radioatividade de Michel Temer empurraram o PSDB para o colo de Alckmin. E o eleitorado, cujos humores são prospectados pelos institutos de pesquisa, mantém Alckmin na frigideira onde ardem os sub-Bolsonaros, candidatos com índices de intenção de voto abaixo dos dois dígitos.
No momento, é muito difícil distinguir o partido fundado por Franco Montoro, Mario Covas e Fernando Henrique Cardoso de uma legenda gelatinosa do chamado centrão. E a dificuldade para identicar o DNA daquela legenda nascida em 1988 de uma dissidência do PMDB tende a aumentar.
A pretexto de firmar-se como uma alternativa presidencial de "centro", Alckmin planeja associar-se ao rebotalho da política. Para aumentar o seu tempo de propaganda na televisão, trabalha com a perspectiva de empurrar para dentro de sua coligação legendas como PP, PTB, PR, PSD e até o PMDB.
Alckmin negociava à sombra. Mas o ministro Henrique Meirelles (Fazenda), que também sonha com a Presidência da República, entrou no jogo. Ele disputa com o grão-tucano o apoio dos mesmos aliados tóxicos. Impossível manter fora do alcance dos repórteres um balé de elefantes como esse.
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