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Josias de Souza

Ausência vira arma anti-reforma da Previdência

Josias de Souza

11/12/2017 04h09

O governo precisa de 308 votos para aprovar a reforma da Previdência na Câmara. Pode-se evitar que o número mágico seja atingido de duas maneiras: votando contra a proposta —o que expõe o deputado ao risco de retaliação— ou simplesmente ausentado-se do plenário no dia votação. Cresce o número de deputados que tramam não dar as caras.

Utiliza-se contra Michel Temer a mesma feitiçaria usada pelo presidente para enterrar duas denúncias criminais. A continuidade das investigações contra o presidente e os ministros palacianos Moreira Franco e Eliseu Padilha exigia o aval de 342 do 513 deputados. No vale-tudo adotado para evitar que a marca fosse alcançada, o Planalto pressionou deputados que não tinham coragem de se expor à sanha das redes sociais para que sumissem do plenário na hora de a onça beber água.

O movimento pela ausência cresce na proporção direta do aumento da pressão governamental para que os partidos recorram ao "fechamento de questão", como é chamada a ferramenta estatutária que permite a punição de filiados rebeldes. Avalia-se que as legendas terão mais dificuldade para tratar a ferro e fogo os deputados que faltarem à votação. Sob pena de sofrerem uma debandada em março, quando se abre uma janela legal para a migração partidária.

Por ora, três partidos fecharam questão para forçar seus deputados a aprovarem a emenda constitucional que mexe na Previdência: PMDB, PTB e PPS. Alçado no sábado à presidência do PSDB, Geraldo Alckmin declara-se a favor de que os tucanos adotem a mesma providência. Arrisca-se a virar um presidente minoritário no alvorecer de sua gestão à frente do ninho.

Neste domingo, de passagem por Buenos Aires, Michel Temer declarou: "Falei com presidentes do PP, PSB e PRB. E todos estão entusiasmados com eventual fechamento de questão". Indagou-se a Temer se está otimista com a possibilidade de aprovação da refoma ainda em 2017. E ele:  "Suponho que talvez seja possível, mas, se não for, essa matéria da Previdência não vai parar." Deve-se a cautela à ausência de votos.

Por decisão de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, abre-se na quarta-feira, a fase de discussão da proposta previdenciária no plenário. Mas a inanição de votos permanece. "Quem sabe, a gente consiga fechar na terça-feira", declarou Temer, referindo-se à meta de aprovar a matéria até o dia 19. Se não der, fica para o ano eleitoral de 2018. Ou para as calendas.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.