Reforma da Previdência pode ficar para 2019
A ficha do governo começou a cair. "Há um acordo entre os presidentes das duas Casas do Congresso para a votação da reforma da Previdência somente em fevereiro", anunciou o líder de Michel Temer no Senado, Romero Jucá, para desespero do Planalto e desassossego do governismo. Trata-se de uma meia verdade, que realça justamente a metade que é mentira.
A perspectiva de votar a proposta no retorno do recesso parlamentar baseia-se em análises oficiais tão profundas quanto uma poça –do tipo que pode ser atravessada por uma formiga, com água pelas canelas. Todos sabem que o Planalto não dispõe dos 308 votos de que precisa para aprovar a mexida previdenciária na Câmara. Sabe-se também que apoio legislativo que falta a Temer agora não lhe cairá no colo no alvorecer do ano eleitoral de 2018.
Quem não quiser fazer papel de bobo deve anotar uma frase dita ao blog por um dos aliados mais fieis a Temer: "A reforma da Previdência só será discutida a sério no ano da graça de 2019." Os deputados governistas ajustam o discurso. Até aqui, diziam que não queriam correr o risco de desagradar o eleitor com uma reforma dura de roer. Começam a entoar a tese segundo a qual a mudança na Previdência é coisa tão relevante que merece ser debatida na campanha presidencial, para ser encaminhada pelo próximo presidente, com o aval das urnas.
Muitos se perguntam sobre o que está havendo, afinal, com o governo "semipresidencialista" ou "semiparlamentarista" de Michel Temer. O Planalto chegou a celebrar uma base congressual que roçava a marca dos 400 votos. Hoje, tem dificuldades para atrair 250.
O que ocorre com a gestão Temer é que o presidente gastou toda a sua munição fisiológica para obter da Câmara o congelamento das duas denúncias criminais que a Procuradoria grudou em sua biografia. E os parlamentares, depois de arrancar do governo todas as vantagens que o déficit público pode financiar, preferem cuidar das urnas a fazer novas concessões a um presidente cuja popularidade está na margem de erro das pesquisas.
No momento, a administração Temer é movida pelo pior tipo de ilusão que um governo pode nutrir: a ilusão de que governa. Resta agora ao presidente torcer para que os efeitos do adiamento da reforma da Previdência não comprometam demasiadamente o alegado desengessamento da economia.
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