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Josias de Souza

Para Pezão, solução do Rio é trocar de imprensa

Josias de Souza

02/02/2018 04h07

O governador Luiz Fernando Pezão descobriu uma solução revolucionária para os problemas do Rio de Janeiro. Após profundas reflexões, ele concluiu que, no quesito segurança pública, a capital do seu Estado é bem menos violenta do que se imagina. E tudo pode ficar ainda melhor com uma providência simples: trocar de imprensa. Essa que atua no Rio é de péssima qualidade.

Pressionado a pronunciar meia dúzia de palavras sobre o surto de violência que invade o noticiário, Pezão declarou: "A cidade do Rio não é a cidade mais violenta do país. Mas se a gente vir os nossos noticiários, os nossos jornais, parece que é. É uma cobertura cruel, o que a nossa área de segurança tem aqui. Infelizmente."

Para que o Rio se torne um paraíso seguro, livrando seus moradores da violência, é imperioso que os jornalistas, depois de reciclados como lixo, façam o seu papel: de cegos. Do jeito que está, o noticiário não pode continuar. Se deixar, essa gente acaba retratando o governador como um reles impostor.

Se a imprensa não for trocada, disseminará a tese segundo a qual alguém que, em meio ao pipocar de escândalos e de tiros, depois de anos em que o Rio foi saqueado pelos esquemas que o acompanham no poder desde Sergio Cabral, continua a empunhar a bandeira da normalidade ou é um cínico ou um banana. Em nenhum dos casos é o governador que seus eleitores esperavam.

Com uma imprensa nova e menos rigorosa, nem que seja pela desatenção, o comandante da Polícia Militar do Rio, Wolney Dias, poderá levar adiante o plano que expôs a Pezão. Prevê a redução do número de UPPs, Unidades de Polícia Pacificadora —em vez de 38, restariam apenas 18.

"A proposta foi no sentido de se extinguir 18 UPPs", explicou o coronel Wolney. "Logicamente que isso passa, como eu disse, por uma análise técnica. […[ Aquelas em que não haja um domínio territorial maior, talvez possa ser reavaliada a sua manutenção." Genial: as favelas que o Estado, por esculhambado, não conseguiu dominar voltam integralmente para o controle do crime organizado.

A fórmula encontrada por Pezão é revolucionária porque serve para solucionar problemas em qualquer área. Tome-se o exemplo da medicina. Guiando-se pela lógica do governador, os médicos não precisarão mais curar as doenças. Basta que destruam as radiografias e as tomografias. Com uma vantagem: num Estado assim, tão criativo, as pessoas poderão escolher entre dois papeis: bobos ou cínicos.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.