Nome do problema não é Cristiane nem Segovia
O problema do governo tem nome e sobrenome. Políticos e jornalistas o chamam ora de Cristiane Brasil, ora de Fernando Segovia. Se estivessem certos, a solução seria simples. Bastariam uma esferográfica para a assinatura do presidente e um par de folhas para o ato de nomeação de outra pessoa para o Ministério do Trabalho e para a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal. Mas estão todos enganados.
Chama-se Michel Temer o problema do governo. Chegou ao Planalto como solução constitucional para a autocombustão que consumiu o mandato de Dilma Rousseff. Virou um problema porque, não tendo como elevar sua estatura política às dimensões exigidas pelo momento histórico, optou por rebaixar o pé-direito do Planalto. Revelou-se um pequeno presidente. Bem menor do que seria razoável.
Nesta quarta-feira, que deveria ser de cinzas, a ministra Cármen Lúcia manteve acesa a fogueira que transforma a novela Cristiane Brasil num filme de terror que já dura 44 dias. A magistrada reiterou que cabe ao STF, não ao STJ, a palavra final sobre a moralidade da nomeação de uma ministra do Trabalho com condenações trabalhistas. Mas se absteve de expedir um veredicto.
Se Michel fosse menos Temer, mandaria Roberto Jefferson e sua filha às favas e acomodaria no Ministério do Trabalho alguém com mais biografia do que folha corrida. Mas o subpresidente não tem músculos para desafiar o minúsculo PTB de Jefferson. Ou o partido indica outro nome ou as cenas de terror se prolongarão indefinidamente.
Quanto ao chefão da Polícia Federal, o investigado Temer concorda que ele falou demais. Mas decidiu ser compreensivo. O problema é que o ministro Luís Roberto Barroso avalia que Segóvia precisa de interrogatório, não de compreensão. Relator do processo em que Temer é suspeito de beneficiar uma empresa portuária, Barroso ouvirá Segovia na segunda-feira. Por que insinuou que o processo será arquivado? Por que deixou no ar a hipótese de punir o delagado que investiga o presidente?
Se Temer não fosse tão Temer, José Sarney jamais teria ousado indicar Segovia para o comando da PF. E o denunciado Eliseu Padilha não estaria na Casa Civil, pronto para avalizar um apadrinhado capaz de azeitar a Operação Abafa a Jato. E não haveria na coordenação política do Planalto um Carlos Marun para migrar da condição de ex-chefe da milícia parlamentar do bandido Eduardo Cunha para a de defensor número um do comandante da Polícia Federal.
Temer parece decidido a obrigar os brasileiros a viverem num Brasil alternativo. Um país fictício em que nada de reprovável acontece. Nesta ficção, em nome da continuidade das reformas, ninguém vai reparar que o presidente não está à altura do cargo que ocupa.
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