FHC enxerga Alckmin-2018 com olhos de coveiro
Para um pedaço do tucanato, Fernando Henrique Cardoso tornou-se um ancião excêntrico, que é tolerado pela família porque, afinal, é da família. Mas o grupo de Geraldo Alckmin não sabe muito bem como tratá-lo. FHC atravessa aquela fase da existência em que a pessoa já viveu o bastante para saber que certas opiniões podem lhe custar amigos. Mas às vezes ele prefere ter opiniões a ter amigos.
Nesta terça-feira, em evento promovido pelo Estadão, FHC sapecou: "Vou dizer algo que vai desagradar meus amigos. Mas quem for candidato do mercado vai perder, porque será simbolizado como dos ricos. Aí acabou, porque o país não é composto por mercado só. Tem que ser um candidato que faça as pessoas sentirem que a vida delas estará segura e terá mais oportunidades e decência."
No momento, três pretendentes ao trono têm a cara de candidatos do mercado: Alckmin, o ministro da Fazenda Henrique Meirelles e o presidente da Câmara Rodrigo Maia. Nenhum deles exibe índices exuberantes nas pesquisas. Mas as taxas de Alckmin são, digamos, menos piores. O que leva o mercado a acender velas por ele. FHC dedica-se a soprar as chamas.
Alckmin acaba de confiar a confecção do seu projeto econômico ao economista Pérsio Arida, um dos pais do Plano Real. Após defini-lo como "gênio", FHC declarou que a maioria do eleitoado não quer saber de planos técnicos. Para ele, não basta ao candidato ter "gênios" em seu comitê. É preciso que o pretendente ao Planalto saiba trazudir as propostas, seduzindo o eleitor.
Crivado de perguntas sobre o potencial de vitória de Alckmim, o ancião do ninho disse que o candidato "tem chance". E logo se explicou: "Eu digo chance porque estou fazendo uma análise. Depende de como se desempenhe." A cada movimento dos lábios, FHC deixa mais claro que enxerga a candidatura do correligionário com um entusiasmo de coveiro.
Em privado, FHC afirma objetivamente que Alckmin não empolga. Embora o candidato se considere vivo na disputa, o ex-presidente tucano o trata como um vivo tão pouco convincente que logo começará a receber coroas de flores. É como se o ancião tivesse pesadelos todas as noites. Nos sonhos ruins, FHC está na poltrona do piloto. Ele dialoga com seus botões como se fossem co-pilotos:
— Porta dianteira fechada, diz FHC no pesadelo.
— OK, confere, respondem os seus botões.
— Porta traseira…
— Porta traseira fechada.
— Pressurização acionada.
— Ok.
— Temperatura interna 22 graus.
— 22 graus. Confere.
— Flaps da direita em 'on'.
— Confere.
— Flaps da esquerda…
— Acionados.
— Então. vamos levantar vôo.
— As turbinas não respondem!
— Como?
— Minha nossa! Estamos sem as turbinas!
— Como fomos embarcar nessa?!? Sabia que estava faltando algo!
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