Ciro candidata-se a herdeiro do espólio de Lula
Tomado pela pesquisa mais recente do Datafolha, divulgada no final de janeiro, Ciro Gomes tornou-se beneficiário natural de um pedaço do espólio eleitoral de Lula. Amealhou 7% das intenções de voto num cenário com a presença do candidato inelegível do PT. Sem Lula, subiu seis pontos percentuais, estacionando em 13%. Confirmado nesta quinta-feira como presidenciável do PDT, Ciro já tentou de tudo para firmar uma parceria formal com o PT. Mas como tudo não quis nada com ele, o ex-ministro de Lula e Dilma Rousseff passou a soar como se tentasse estabelecer contato direto com o eleitorado órfão do PT.
"A história é um testemunho muito mais forte do que retórico ou de interpretações de um certo centro de intrigas que eu vi surgir", disse Ciro aos repórteres. "[…] Ao longo dos últimos 16 anos eu ajudei o Lula sem faltar nenhuma vez. Estou vendo o que está acontecendo no país. Vejo crescer nas minhas costas uma responsabilidade muito grande."
Ciro antevê um segundo turno em que medirá forças com o governador tucano Geraldo Alckmin. Antes, ambos terão de se livrar dos seus tampões. "O Bolsonaro está tamponando o Alckmin e o Lula tamponando a minha posição", disse o candidato do PDT.
Dono de um estilo tonitruante, Ciro passou a trazer a língua na coleira. Já se deu conta de que, solta, ela não perde oportunidade de exercitar sua vocação para a autocombustão. Foi o que sucedeu na ocasião em que declarou que o papel de Patrícia Pillar, a atriz com quem Ciro vivia, era o de dormir com o candidato. Hoje, Ciro se esforça para grudar em si mesmo o rótulo de feminista, avesso a brincadeiras tolas. "Desta vez, evidentemente, vou tomar muito mais cuidado."
Com a língua domada e os rivais batendo cabeça entre si, o maior entrave de Ciro é a falta de reciprocidade do petismo. Se Deus intimasse o PT para optar entre o seu próprio umbigo e a candidatura presidencial de Ciro Gomes, os petistas dariam a seguinte fulminante resposta: morra a pretensão política de Ciro. E, com isso, ficaria claro que, para o petismo, o egocentrismo é o grande acontecimento. Só o interesse próprio existe. O resto é paisagem. Lula e seu partido ainda não disseram "desta água não beberei." Mas já sinalizaram que preferem ferver Ciro Gomes antes.
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