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Josias de Souza

Temer cogita candidatura para fazer autodefesa

Josias de Souza

20/03/2018 20h06

Vai ser candidato? Abalroado pela indagação ao sair de um almoço com o presidente colombiano Juan Manuel Santos, Michel Temer admitiu, finalmente, sua pretensão de disputar a reeleição. "Ainda não decidi. Não é improvável, mas ainda não decidi", declarou o presidente.

E quanto à candidatura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles? Temer respondeu com a barriga: "Tudo isso vai ser objeto de conversas —com o Meirelles, inclusive, que é uma grande figura", disse, empurrando a definição com seu estômago protuberante.

De acordo com os dados mais recentes coletados pelo Datafolha, Temer comanda um governo reprovado por 7 em cada dez brasileiros. O percentual de eleitores que declaram que jamais votariam nele é de 60% —um índice de rejeição superior ao de Fernando Collor (44%) e Lula (40%).

Esses índices tóxicos fazem de Temer um ótimo alvo político, não um bom candidato. Só há uma razão para o detentor de tais marcas cogitar a hipótese de levar o próprio nome à urna eletrônica: a autodefesa. Temer se deu conta de que, se não estiver na disputa, vai apanhar indefeso.

Carismático como uma pedra de gelo, Temer preferia terceirizar sua defesa a um presidenciável que se dispusesse a representar o governo na campanha. "Defendo que o governo apoie um candidato", vem declarando há semanas o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), amigo e auxiliar mais chegado ao presidente.

O diabo é que, por ora, só Henrique Meirelles se dispõe a enaltecer o dito "legado" da gestão Temer. Ainda assim, vai trombetear uma política econômica que considera mais sua do que do presidente. E tomará distância do passivo penal associado a Temer e seu séquito pegajoso de moreiras e padilhas, jucás e outras armadilhas. Se o quadro se mantiver assim até junho, Temer pode entrar no jogo —mais como advogado de si mesmo do que como candidato viável.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.