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Josias de Souza

Apesar de tudo, há motivos para amar a política

Josias de Souza

29/03/2018 00h05

Em momentos como o atual, marcados pela alta tensão, é importante dizer meia dúzia de palavras em defesa da política. O que é a política? Em última análise, é uma alternativa à ditadura ou à guerra civil. É uma invenção das sociedades civilizadas para resolver os seus conflitos sem recorrer ao porrete, ao ovo, à pedra, ao tiro. Essa política, concebida como alternativa à violência, precisa ser amada.

A política tem suas facções. Elas são chamadas de partidos. Alimentam-se do conflito. Mas há duas regras de ouro no jogo da política. Eis a primeira: nenhuma facção tem o poder de silenciar as outras. A segunda regra é: pessoas que não se respeitam precisam se enfrentar com respeito. Isso é compulsório. A arma é a ideia, a palavra. Os conflitos se resolvem no voto, não na porrada. Ou na bala.

Hoje, a política brasileira é marcada pela corrupção e pelo ódio. Contra a ladroagem e a violência, os remédios são a investigação radical e a punição exemplar. Às vezes bate um desânimo. Mas é preciso lembrar que as alternativas à política são a ditadura e a guerra civil. Numa, os conflitos são resolvidos na câmara de tortura. Noutra, as diferenças são solucionadas na bala. Melhor amar a política, mesmo nos momentos em que esse amor não é correspondido.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.