‘Efeito xilindró’ aproximou Lula e Michel Temer
Ninguém entendeu quando, no início de março, Lula elogiou Michel Temer numa entrevista por ter resistido ao que chamou de "tentativa de golpe" no escândalo provocado pelo grampo do Jaburu. Mas a proximidade entre Lula é Temer é, hoje, maior do que muitos imaginam.
Na noite de segunda-feira, em ato no Rio de Janeiro, Lula declarou que não vai aceitar "a ditadura do Moro e do Ministério Público." Nesta terça, em artigo no Estadão, Temer escreveu que resistirá a hipotéticas violações constitucionais na investigação do caso dos portos. Coisa, segundo ele, "incompatível com os postulados básicos do Estado Democrático de Direito."
O velho Ulysses Guimarães costumava dizer que, em política, o sujeito não pode estar tão próximo que amanhã não possa estar distante, nem tão distante que amanhã não possa se aproximar. Mas mesmo os brasileiros que não entendem nada de política conseguem enxergar certas politicagens. E a unidade que se estabelece entre Temer e Lula é um exemplo da mais genuína politicagem.
Onde Lula e Temer enxergam "ditadura" e "violações" à democracia o que há é uma novidade com a qual ambos não estavam habituados: os criminosos do poder começaram a ser investigados e condenados. O que aproxima Lula e Temer é o 'efeito xilindró'. Um já está condenado à cadeia. Outro aguarda na fila.
Os dois logo estarão mais calmos, porque o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o habeas corpus de Lula, deve fulminar a regra que permite a prisão de condenados em segunda instância. No Brasil, quem tem conselheiros e companheiros de toga não sofre de insônia por muito tempo.
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