PT encolhe e aprisiona o futuro na cela de Lula
A prisão de Lula impôs ao PT o desafio de um recém-nascido: às voltas com um processo de encolhimento, o partido retornou às suas origens sindicais da década de 80. Teria de aprender a andar com suas próprias pernas. Mas como não consegue se mover sem Lula, a legenda aprisionou o seu futuro na mesma sala que serve de cela para o seu grande líder, em Curitiba. A única pessoa com poderes para conceder um habeas corpus ao PT é o próprio Lula. Mas ele não exibe a mais remota intenção de libertar a legenda.
No comício de São Bernardo, que antecedeu a rendição no sábado, Lula disse aos devotos que se aglomeraram na porta do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC: "Quando eu percebi que o povo desconfiava que só tinha valor no PT quem era deputado, sabe o que eu fiz? Eu deixei de ser deputado. Queria provar ao PT que eu ia continuar sendo a figura mais importante do PT sem ter mandato."
Na sequência, como que decidido a demarcar seu terreno antes de ser recolhido pela Polícia Federal, Lula declarou: "Se alguém quiser ganhar de mim no PT, só tem um jeito: é trabalhar mais do que eu e gostar do povo mais do que eu, porque se não gostar, não vai ganhar". Foi como se Lula farejasse o risco de crescimento da banda minoritária do PT que prega internamente a necessidade de construção de uma alternativa à hipotética candidatura presidencial de um líder preso e ficha-suja.
Ao anunciar à multidão que cumpriria o mandado de prisão de Sergio Moro, entregando-se à polícia, Lula radicalizou o discurso. Disse que o encarceramento não iria silenciá-lo, porque seus apoiadores fariam barulho no seu lugar: "Eles têm que saber que vocês são até mais inteligentes do que eu. E poderão queimar os pneus que vocês tanto queimam, fazer as passeatas que tanto vocês queiram, fazer ocupações no campo e na cidade…"
Esse palavreado ácido tem efeitos negativos no campo jurídico e na seara política. Juridicamente, o timbre de Lula reforça uma linha de confronto que o transformou num colecionador de derrotas nos tribunais. Politicamente, o veneno de Lula condena o PT a reviver uma realidade da época em que fazia campanhas com o objetivo de converter os convertidos. O problema é que a multiplicação do amor dos devotos petistas por Lula não trará de volta os votos da classe média. Uma gente conservadora que acreditou na Carta aos Brasileiros, o documento em que Lula renegou o receituário radical que o impedia de chegar à Presidência da República.
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