Manifesto feito para unir o centro divide o centro
Concebido com o propósito de unificar as forças políticas de centro, o manifesto 'Por um polo democrático e reformista' já produziu sua primeira consequência prática: acentuou a divisão do centro. Presidenciável do DEM, Rodrigo Maia enxergou na iniciativa um movimento mal disfarçado em favor da candidatura tucana de Geraldo Alckmin. E passou a torpedear o manifesto, arrastando a solidariedade do seu partido e de parte do chamado centrão. A desavença explodiu nesta terça-feira, dia do lançamento do manifesto.
Subscreveram o texto da hipotética unificação algo como três dezenas de pessoas. Em meio a assinaturas de congressistas do PSDB, MDB, DEM, PPS, PTB, PSD e PV, o documento traz a rubrica de acadêmicos e até do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Anota a certa altura: "Existem ameaças e oportunidades, interrogações e expectativas, perplexidades e exigências da realidade povoando o ambiente pré-eleitoral." A reação de Maia revela que as interrogações e as perplexidades do centro são maiores do que as oportunidades.
O manifesto prossegue: "Tudo que o Brasil não precisa, para a construção de seu futuro, é de mais intolerância, radicalismo e instabilidade." Nada mais radical e instável no momento do que um bloco autoproclamado de centro que se divide como se estivesse a serviço dos rivais que avançam à esquerda e à direita.
Chama-se Marcos Pestana o principal articulador do manifesto. Deputado federal por Minas Gerais, ele é secretário-executivo do PSDB. Daí o pé atrás de Rodrigo Maia. Hoje, trafegam pelo centro sete candidaturas, todas na casa de um dígito nas pesquisas —ou nem isso: Flávio Rocha, João Amoêdo, Rodrigo Maia, Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles, Alvaro Dias e Paulo Rabello de Castro.
Pestana despediça saliva informando que o manifesto não é pró-Alckmin. Sustenta que todas as candidaturas são "legítimas". O que se pretende no momento, segundo ele, é estimular a "reflexão", para impedir que a desunião empurre o "centro" para fora do segundo turno, transformando a sucessão presidencial numa disputa entre "a catástrofe e o desastre", como ele se refere às opções de esquerda e à direita paleolítica representada por Jair Bolsonaro.
O manifesto apregoa: "Para nos libertarmos dos fantasmas do passado, superarmos definitivamente a presente crise e descortinarmos novos horizontes é central a construção de um novo ambiente político que privilegie o diálogo". Antes de dialogar com o eleitorado, os animadores do centro terão de convencer gente como Rodrigo Maia de que o "dialogo" sugerido pelo manifesto não tem o objetivo de fazê-los calar a boca para que o bico de Alckmin deixe de ser ignorado. Por ora, o manifesto serviu apenas para revelar que a união do centro faz a farsa.
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