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Josias de Souza

Ativismo libertador de Gilmar incomoda colegas

Josias de Souza

06/06/2018 00h15

Cresce no Supremo Tribunal Federal o incômodo com a desenvoltura com que Gilmar Mendes, o libertador, põe em prática a sua política de celas vazias. Gilmar solta no atacado os investigados por corrupção que o juiz Marcelo Bretas manda prender no varejo, à medida que avançam as investigações contra os esquemas que saquearam os cofres do Rio de Janeiro. Num intervalo de 21 dias —15 dias úteis se forem descontados os finais de semana— Gilmar acionou sua chave suprema para abrir as celas de 19 presos.

Abre parêntese: Na noite desta terça-feira, após a veiculação deste comentário, Gilmar soltou mais um. Agora já são 20 os beneficiários do ativismo libertário do ministro. Fecha parêntese.

A desenvoltura com que Gilmar solta os presos acaba consolidando uma visão do ministro sobre o trabalho do juiz que concentra os casos da Lava Jato no Rio de Janeiro. É como se o ministro do Supremo expedisse uma sentença contra as decisões do juiz da primeira instância. Fica a impressão de que, se pudesse, Gilmar mandaria prender Bretas, condenando-o por incompetência —ou por eficiência excessiva.

Consolida-se entre colegas de Gilmar a sensação de que as críticas à atuação do ministro contaminam a imagem do próprio Supremo. E não se está falando aqui do ministro Luís Roberto Barroso, desafeto de Gilmar. A inquietação chegou a outros gabinetes. Juízes de primeira instância romperam uma tradição. Antes, nenhuma revelação abalava o prestígio de políticos e empresários. Desmascarados, eles continuavam enchendo as colunas sociais. Hoje, eles enchem as celas que Gilmar esvazia. O Supremo precisa decidir de que lado está.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.